Prezado Carlos Lorch,
Inicialmente parabenizo a Revista Força Aérea pelos seus quase 18 anos de atividades, com 82 edições publicadas, muitas das quais com aeronaves da Força Aérea Brasileira em suas capas.
A mais recente, de N° 82, tem como matéria de capa a adoção dos novos SC-105, e revela como os esforços de reequipamento e modernização da FAB têm resultado em ganhos imensos para o País.
Contudo, causa estranheza que esta mesma revista também traga em suas páginas o questionável artigo de opinião "F-X Made in Brazil". Certamente, há ali uma visão pessoal do seu autor e algumas considerações precisam ser devidamente esclarecidas.
A desativação das aeronaves Mirage 2000 no final de 2013 ocorrerá por razões técnicas que o autor do artigo desconhece, conforme contrato assinado pelo Comando da Aeronáutica em 29 de setembro de 2011, há quase dois anos. Portanto, este Comando nega veementemente a especulação de que a desativação dessas aeronaves é uma "manobra de pressão" do Comando da Aeronáutica sobre o Governo Federal.
O fechamento da Base Aérea de Anápolis é outra especulação levantada pelo autor sem qualquer ligação com a realidade. A Base Aérea de Anápolis foi construída para defender a Capital do País e é fundamental para a principal missão institucional do Comando da Aeronáutica: a defesa da soberania do espaço aéreo brasileiro. A Base também é sede 2°/6° GAV, outra unidade ímpar na Força Aérea Brasileira, que a partir dali cumpre missões estratégicas em todo o Brasil.
Não são jogos de influência, pressões políticas ou especulações que definem os rumos do Comando da Aeronáutica. Pelo contrário. Há um planejamento claro, de longo prazo, com objetivos bem específicos para o seu futuro. O Plano Estratégico Militar da Aeronáutica (PEMAER) está consolidado a partir dos eixos estruturantes da Estratégia Nacional de Defesa (END) e do Programa de Articulação e Equipamentos de Defesa (PAED).
Sobre as novas aeronaves de caça, não há qualquer indecisão do Comando da Aeronáutica. Necessitamos de uma nova aeronave, de alto desempenho, com tecnologias do século XXI e que represente um salto operacional para a Força Aérea Brasileira.
E trabalhamos para isso. A Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC) desenvolveu um exemplar processo de análise e seleção das opções disponíveis no mercado. A Gerência do Projeto F-X2 (GPF-X2), instituída em maio de 2008, realizou uma análise detalhada que envolveu aspectos comerciais, técnicos, operacionais, logísticos, de compensação comercial, industrial e tecnológica (Offset), e de transferência de tecnologia. Em 2010, o relatório final foi encaminhado ao Governo Federal para a necessária fase de análise política a estratégica.
Enquanto a decisão final do Governo Federal não é anunciada, o Comando da Aeronáutica tem um planejamento definido para a defesa aérea do País, que não ficará desguarnecida e que não envolve novas aquisições de caças F-5.
Em se tratando de F-5, a ampliação da frota destes caças supersônicos também já está em curso, outro aspecto que o artigo de opinião ignora. As onze unidades adicionais de caças F-5E/F, adquiridos do Reino da Jordânia, em breve serão incorporadas aos Esquadrões da Força Aérea Brasileira. O contrato de modernização destas aeronaves, por exemplo, já foi assinado com a Embraer. Estes aviões terão as mesmas capacidades dos F-5EM/FM hoje em uso.
Enquanto isso, inúmeros outros projetos de reequipamento e modernização estão em curso. Nos últimos 10 anos, a Força Aérea Brasileira renovou praticamente toda a sua frota, como podemos acompanhar nas próprias páginas da Revista Força Aérea.
Além de novas capacidades, estas histórias de sucesso têm como destaque a profícua participação da Base Industrial de Defesa do Brasil. Sempre que possível, os projetos têm participação ou são executados em sua totalidade com empresas brasileiras. A geração de empregos, o desenvolvimento tecnológico nacional e a propriedade intelectual das inovações são diretrizes nos planos do Comando da Aeronáutica. Obviamente, assim como em qualquer outro país, mesmo os de maior tradição na indústria de defesa, não é possível que as iniciativas sejam sempre 100% nacionais. Nestes casos, destacam-se os bem sucedidos programas de transferência de tecnologia, que ajudam a trazer para dentro das nossas fronteiras conhecimentos que certamente agregarão muito à Defesa e à economia do Brasil.
Isso tudo demonstra que, ao contrário do sugerido no artigo de opinião publicado na Revista Força Aérea, não há falta de “ousadia administrativa” do Comando da Aeronáutica. Pelo contrário. Os 72 anos desta instituição demonstram que são as posturas audazes que tanto têm trazido ganhos para a Força Aérea Brasileira e para o País.
É a ousadia, por exemplo, de encarar o desafio de substituir os C-130 Hércules como uma oportunidade para um projeto ainda em curso, mas que já faz do KC-390 um sucesso internacional. É a ousadia de desenvolver, em parceria com outro país, um míssil tão avançado quanto o A-Darter. É a ousadia que faz os alvos dos nossos estandes de tiro explodirem com as armas inteligentes lançadas de nossas aeronaves.
Os projetos de modernização e reequipamento do Comando da Aeronáutica são audazes, e por isso mesmo despertam tanta especulação e interesses econômicos. No entanto, é fundamental combinar essa audácia com a capacidade de gestão e o planejamento tão necessários. O caminho é claro e os passos estão sendo dados.
Por fim, entendo que uma visão desprovida de julgamentos tendenciosos e mais atenta aos fatos certamente teria maior valia para os estimados leitores da Revista Força Aérea.
Atenciosamente,
Brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno
Chefe do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica
SNB