O laboratório da Curiosity, a missão da Nasa, a agência espacial americana, em Marte, fez suas primeiras análises de solo no planeta vermelho nesta semana, provando que os equipamentos de última geração são capazes de operar e enviar dados.
Entretanto, a detecção de moléculas ricas em carbono -que podem indicar vestígios de vida- ainda deve demorar.
Conhecido como Sam (Sample Analysis at Mars, ou Análises de Amostras em Marte), o laboratório integrado ao jipe-robô da Curiosity é um dos principais diferenciais desta missão, por possuir instrumentos modernos e ser capaz de transmitir análises complexas.
Mas os cientistas pedem paciência e alertam que as investigações de Sam devem ser metódicas e demoradas.
E o local onde as primeiras análises estão sendo feitas, Rocknest, também não é a região mais amigável do planeta vermelho para começar a busca por complexos de carbono que, a essa altura, estarão degradados pelo tempo.
Rocknest se assemelha a uma série de dunas de areia.
"Nós não tínhamos muitas expectativas de que Rocknest fosse rica em [complexos] orgânicos. Na verdade, [o local] parece ser pobre em orgânicos. Mas a busca vai continuar", disse Paul Mahaffy, do Centro de Voos Espaciais da Nasa Goddard, que é o principal cientista por trás do gerenciamento do Sam.
Traços de vida
Toda forma de vida que conhecemos na Terra provém de uma fonte de moléculas de carbono complexas, tais como aminoácidos, e precisa de água e energia.
Daí a importância da busca da Curiosity por tais compostos em sua missão de determinar se o planeta vermelho foi capaz de abrigar a vida em algum momento de sua história.
Missões anteriores, destacadamente as sondas Viking, enviadas à Marte nos anos 1970, chegaram perto de indicar a presença de moléculas orgânicas no planeta.
Mas se a Curiosity conseguir fazer a confirmação definitiva ao chegar à cratera de Gale, seria um verdadeiro momento "eureka" para a humanidade.
A descoberta não provaria existência de vida, mas se aproximaria muito do ponto de demonstrar que o planeta vermelho talvez tenha tido ambientes capazes de abrigar a vida no passado.
Mas o jipe-robô Curiosity só está em Marte há quatro meses, e a maior parte deste tempo foi usada para aprender como usar suas ferramentas e instrumentos.
Vapor d'água e carbono
Dentre as primeiras amostras colhidas, análises mostraram que o vapor d'água marciano contém cinco vezes mais deutério do que o percentual encontrado na água terráquea. Em outras palavras, é mais pesado.
Isto confirma os indícios de que Marte tenha perdido grande parte de sua atmosfera ao longo do tempo. O planeta não tem um campo magnético sobre a atmosfera para impedir que moléculas de ar não sejam varridas pelo vento solar.
As versões mais pesadas dessas moléculas teriam sido eliminadas, e as mais pesadas retidas no planeta.
Mas os cientistas também não descartam a possibilidade de alguns dos achados serem resíduos de elementos levados da Terra pelo jipe-robô, que talvez ainda não tenha tido tempo suficiente para se limpar.
"Nós temos que garantir que o carbono não esteja vindo de algum carbono terrestre residual que esteja em nosso sistema. Este carbono também poderia conter alguma forma de carbono inorgânico - o dióxido de carbono que foi liberado durante os testes", explica o cientista Paul Mahaffy.
Perfurador
A única ferramenta da Curiosity que ainda não foi testada é o perfurador. Isto pode tornar possível obter amostrar de dentro de rochas que oferecem condições mais favoráveis para o estudo de química orgânica complexa do que a areia soprada pelas dunas de Rocknest.
John Grotzinger, outro responsável pela missão, diz que a Nasa ainda busca pelo local mais adequado para estrear o perfurador.
Sam receberá essas amostras nos próximos meses.
"O nome do meio da Curiosity é paciência e temos que ter uma dose generosa dela", avisou aos repórteres. BBC Brasil - SEGURANÇA NACIONAL BLOG