domingo, 20 de novembro de 2011

Exército quer crescer na selva


Mais homens e tecnologia de ponta estão na mira do governo para ampliar presença na selva; empresas do Vale vão ajudar
Xandu AlvesEnviado especial a Manaus
O Exército Brasileiro trabalha para fazer da atuação na Amazônia uma referência que poderá ser aplicada em outras partes do mundo.

A iniciativa faz parte do processo de transformação das Forças Armadas a partir da Estratégia Nacional de Defesa, estabelecida no ano passado, e das pretensões do país no cenário mundial.

Na avaliação do comandante militar da Amazônia, general Eduardo Villas Bôas, as previsões indicam que, até 2020, o Brasil será a quinta economia do mundo. Isso exigirá mudanças.

“Como o país pleiteia vaga no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), tornando-se um ator global, as Forças Armadas terão que ser compatíveis com as responsabilidades”, afirmou Villas Bôas.

Para ele, se o país buscar o protagonismo, o que as Forças Armadas fazem na América Latina, em especial o Exército, terá que ser expandido para o resto do mundo.

A postura exigirá modernização dos equipamentos e mudança das concepções de emprego nas missões que se vai cumprir.

Tecnologia. O primeiro passo será adotar a tecnologia como item indispensável da vigilância na Amazônia. Nesse ponto o Vale do Paraíba tem papel fundamental.

O Exército finalizou em outubro o projeto básico e começa agora a fase de especificações de equipamento do Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras).

Trata-se de um sistema de alta tecnologia que terá uma rede de sensores colocados ao longo da faixa de fronteira. Na Amazônia, o sistema aproveitará a estrutura dos 27 Pelotões Especiais de Fronteira, ao longo da divisa com sete países.

A rede contará com radares, Vant (Veículo Aéreo Não Tripulado) e sistemas conectados por satélite a centros de comando que, por sua vez, estarão ligados a unidades operacionais e a sistemas de outras forças, como Polícia Federal, Marinha e Aeronáutica.

“Ao detectar qualquer problema em tempo real, a resposta do Exército também terá que ser em tempo real”, disse Villas Bôas, que prevê a implantação completa do sistema em 10 anos.

Empresas. Segundo o comandante da Amazônia, o sistema está “motivando a indústria brasileira a desenvolver tecnologia e equipamentos”, em especial empresas como Embraer, Avibras e Orbisat, todas instaladas no Vale do Paraíba.

Villas Bôas considera a tecnologia desenvolvida no Vale indispensável para aprimorar a cobertura militar na Amazônia. “A presença física é impossível em toda a área de fronteira. A única maneira é fazer por meio de tecnologia de ponta.”

O efetivo do Exército também será ampliado, na Amazônia, para corresponder às pretensões do país. A meta é saltar de 27 mil militares para 40 mil até 2030.

A barreira para a expansão é a falta de estrutura na Amazônia, que tem os piores indicadores sociais da América Latina, segundo relatório da ARA (Articulação Regional Amazônica), rede composta por 24 organizações atuantes na região (leia texto ao lado).

“A Amazônia não comporta muito efetivo. A infraestrutura não suporta. Poucas cidades têm condição de receber uma unidade com 600 integrantes”, apontou Villas Bôas.
“Nosso crescimento tem que ser qualitativo. Temos que ter tecnologia incorporada, melhores sistemas de comunicação e maior mobilidade.”

Unidades. O Exército criará três novas brigadas na Amazônia: uma na foz do rio Amazonas, a segunda em Manaus, que será estratégica para os problemas na fronteira, e a terceira no Acre. Esta última é necessária em razão da rodovia que ligará o Brasil com a rota comercial do Pacífico.

“Com a estrada, a Ásia e a China estarão colocadas dentro do nosso território. A região sofrerá um impacto econômico enorme. Temos que ficar atentos”, disse o general.

A previsão do setor de inteligência do Exército é que, com a estrada e a abundância de energia elétrica, diversas empresas se instalarão na Amazônia, o que trará progresso, mas também pode trazer crimes, como tráfico e contrabando.

População ainda vive em cenáriode desigualdadeDo enviado especial
Relatório da ARA (Articulação Regional Amazônica) divulgado na última quarta-feira, em Belém, durante encontro do Fórum Amazônia Sustentável, revela que a Amazônia ainda tem indicadores sociais distantes dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio, estabelecidos pela ONU em 2000.

Os 34 milhões de habitantes de nove países que compartilham a floresta estão longe de alcançar as metas da ONU para a população amazônica, em itens como educação, saúde, mortalidade infantil e materna e de meio ambiente. As metas têm de ser cumpridas até 2015.

O relatório mostra que, desde 1990, a Amazônia melhorou os indicadores, mas os avanços não foram considerados significativos e estão abaixo das médias nacionais.

Segundo o coordenador nacional da pesquisa, Adalberto Veríssimo, apenas um dos oito objetivos estabelecidos até 2015 foi alcançado na Amazônia: a eliminação da desigualdade de escolaridade entre homens e mulheres.

“A Amazônia é sempre a parte mais pobre de cada país porque é uma região que tem padrão de desenvolvimento baseado ainda na extração de recursos naturais, com grande impacto ambiental associado”, avaliou Veríssimo, representante do Imazon (Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia).

O fosso social é evidente nas pequenas cidades do interior da Amazônia, nas quais os poucos recursos e a mínima infraestrutura são garantidos pelo Exército Brasileiro.

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