ABIDJÃ - O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, advertiu sobre um "risco real" do retorno da guerra civil à Costa do Marfim em meio às disputas sobre o resultado das eleições presidenciais no país.
Ban disse que o presidente Laurent Gbagbo está tentando expulsar ilegalmente a força de paz da ONU após a organização ter reconhecido o opositor Alassane Ouattara como vitorioso no pleito do dia 28 de novembro.
Um aliado de Gbagbo afirmou que os membros das forças da ONU serão tratados como rebeldes se não deixarem o país. Em seu primeiro pronunciamento na TV desde a eleição, Gbagbo reafirmou sua legitimidade. Ele também ofereceu deixar um painel com representantes internacionais examinar os resultados da eleição.
O Exército anunciou ainda a suspensão do toque de recolher noturno, para que as famílias "possam aproveitar os feriados de fim de ano".
Gbagbo disse que Ouattara pode deixar o Golf Hotel, na capital do país, Abidjã, onde montou seu quartel-general, protegido pela ONU. O correspondente da BBC em Abidjan, John James, diz que as ruas de acesso ao Golf Hotel foram bloqueadas e o local não vem recebendo suprimentos por vários dias.
Bloqueio
Em um discurso na Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira, Ban se disse preocupado com a missão de paz da organização na Costa do Marfim, a Unoci, formada por 10 mil homens. Ele advertiu que forças leais a Gbagbo estão obstruindo as operações da Unoci e bloquearam os 800 soldados da ONU destacados para proteger Ouattara.
"Estou preocupado que essa interrupção dos suprimentos para a missão (da ONU) e ao Golf Hotel colocará nossas forças de paz em uma situação crítica nos próximos dias", disse. "Por isso eu faço um forte apelo aos Estados membros que estão em uma posição para fazê-lo para que apoiem a missão", afirmou. "Ao enfrentar esse desafio direto e inaceitável à legitimidade das Nações Unidas, a comunidade internacional não pode ficar parada", acrescentou.
Ban disse que qualquer tentativa de "forçar a submissão da missão das Nações Unidas fazendo-a passar fome" não será tolerada e advertiu que os responsáveis por tais atos terão de responder por eles sob a lei internacional.
Ele também revelou que a Unoci havia confirmado que "mercenários, incluindo antigos combatentes da Libéria, foram recrutados para perseguir certos grupos da população" e que um embargo sobre a compra de armas foi quebrado.
Violência
Os protestos e a instabilidade desde o segundo turno da eleição presidencial ameaçam levar a Costa do Marfim de volta à guerra civil, entre 2002 e 2007, que provocou o colapso econômico no país, o maior produtor mundial de cacau.
Poucos dias após a votação, a Comissão Eleitoral Independente (CEI) declarou Ouattara vencedor com 54,1% dos votos válidos, contra 45,9% de Gbagbo. Ambos os candidatos participaram de cerimônias de posse quase simultâneas e reivindicam a Presidência.
Mas após o atual presidente e seus simpatizantes terem afirmado que houve fraude nas áreas do norte do país controladas por rebeldes ligados à oposição, o Conselho Constitucional alterou o resultado e anunciou que Gbagbo foi o vencedor, com 51% dos votos. Pelo menos 50 pessoas foram mortas nos episódios de violência desde então.
O atual presidente, que tem o apoio das Forças Armadas, está no cargo desde 2000. Seu atual mandato expirou em 2005, mas a eleição presidencial vinha sendo adiada desde então sob o argumento de que não havia segurança para sua realização.
Lei
Em seu pronunciamento na TV estatal, Gbagbo reafirmou sua vitória nas eleições e atribuiu os confrontos recentes "à recusa dos adversários de se submeter à lei". "Eu ganhei a eleição com 51,45% dos votos", disse. "Eu sou presidente da República da Costa do Marfim. Agradeço aos marfinenses por renovarem sua confiança em mim", afirmou.
Gbagbo pediu que a comunidade internacional estabeleça um "comitê de avaliação" que teria a "missão de analisar os fatos e o processo eleitoral objetivamente para resolver a crise pacificamente". Ele também fez uma homenagem aos policiais mortos nos conflitos, dizendo que eles morreram defendendo a Constituição. Mas ele insistiu que o caminho é a negociação. "Não quero mais o derramamento de sangue. Não quero mais guerra", disse.
Ouattara respondeu às declarações de Gbagbo dizendo que eles negociaram por cinco anos (para encerrar a guerra civil) e que ninguém estava em dúvida sobre quem realmente venceu a eleição.
A ONU, que participou da organização da eleição, apoiou a decisão da Comissão Eleitoral Independente e afirmou que Ouattara venceu a eleição. Os EUA também declararam apoio a Ouattara e estabeleceram nesta terça-feira sanções sobre Gbagbo e cerca de 30 pessoas ligadas a ele, seguindo a posição adotada pela União Europeia na segunda-feira.
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