O governo dos Estados Unidos, por meio do programa de monitoramento da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês), espionou a Petrobras, segundo documentos repassados ao jornalista norte-americano Glenn Greenwald pelo ex-funcionário de uma prestadora de serviço do órgão, Edward Snowden.
Apesar de negar fazer espionagem econônima, a NSA usou a empresa brasileira, a sétima maior do mundo de petróleo e gás, como exemplo em uma apresentação de treinamento ensinando novos agentes a monitorar redes privadas de grandes empresas, governos e instituições financeiras. As informações foram divulgadas este domingo (8) pelo “Fantástico”, da Rede Globo.
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O documento, de caráter ultrassecreto, aponta que o serviço tem como clientes a própria Casa Branca além da diplomacia americana e os serviços secretos.
De acordo com a reportagem, a apresentação mostra o passo a passo de como espionar redes privadas e a Petrobras aparece em vários slides. O Google, a diplomacia francesa e a Swift (cooperativa que monitora transações de mais de dez mil bancos) também foram alvo das investigações.
Não se sabe ainda se a NSA teve acesso a algumas informações sigilosas da Petrobras como, por exemplo, detalhes do leilão marcado para outubro, da exploração do Campo de Libra, pertencente ao pré-sal da Bacia de Santos.
Interesse gera polêmica
A espionagem à Petrobras pelo governo dos EUA deve gerar polêmica em todo o mundo, uma vez que a empresa descobriu algumas das maiores reservas de petróleo nos últimos anos. O pré-sal brasileiro pode conter até 100 bilhões de barris de petróleo, de acordo com a Univeridade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“Se a espionagem de fato ocorreu e o espião for competente, acho que ele deveria estar muito mais preocupado em espionar tecnologia, porque o pré-sal é monopólio do Brasil e a Petrobras sempre foi reconhecida por ser a segunda maior conhecedora de exploração de petróleo no mar”, diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE).
Uma das reservas, localizada no campo de Libra, pode conter mais de 12 bilhões de barris de petróleo. De acordo com a Reuters, trata-se da quantia necessária para suprir as necessidades dos EUA por petróleo por um período de quase dois anos.
A estatal deve dobrar de tamanho até 2020, de acordo com estimativa de Graça Foster, presidente da Petrobras, divulgada em maio deste ano. A produção da empresa deve saltar dos atuais 2,2 milhões de barris equivalentes (petróleo e gás natural) por dia para 5,7 milhões em 2020. O número considera a produção da própria Petrobras e de empresas a ela conveniadas.
"Fizemos 53 descobertas no Brasil nos últimos 14 meses. Só no pré-sal, foram 15", disse Graça, durante o anúncio, em maio. "As reservas da Petrobras têm potencial para dobrar de tamanho e atingir 31,5 bilhões de barris de óleo equivalente nos próximos anos (…) Não há dúvida de que os resultados são fruto dos investimentos da companhia, que cresceram 21,5% ao ano desde 2000 e atingiram US$ 42,9 bilhões em 2012”.
A Petrobras ficou em 20º lugar no ranking das 100 maiores companhias do mundo elaborado pela revista Forbes em maio deste ano. A estatal, segundo a revista, tem valor de mercado de cerca de R$ 270 milhões (US$ 120,7 bilhões) e fica em 7º lugar entre as maiores companhias do setor de petróleo e gás do mundo.
Recentemente, Graça Foster, presidente da Petrobras, foi indicada como a 18ª mulher mais poderosa do mundo também pela Forbes. Entre as mulheres de negócios, ela ficou atrás apenas de Indra Nooyi, CEO da Pepsico. Graça assumiu a presidência da companhia em fevereiro de 2012, substituindo Sergio Gabrielli, que deixou o cargo para seguir carreira política na Bahia.
De acordo com o último balanço trimestral divulgado, a Petrobras teve lucro líquido de R$ 6,201 bilhões no segundo trimestre de 2013, revertendo prejuízo registrado no mesmo período do ano passado. O resultado superou as expectativas dos analistas, que esperam lucro próximo aos R$ 5 bilhões. Na comparação com o trimestre anterior, no entanto, o lucro foi 19% menor, devido à depreciação cambial sobre a dívida líquida.
Tensão diplomática
A espionagem sobre a Petrobras deve complicar ainda mais um impasse diplomático tenso entre os EUA e o Brasil, a maior economia da América Latina, provocada pela suposta espionagem da NSA às chamadas telefônicas privadas e e-mails da presidente Dilma Rousseff. O Brasil exigiu um pedido formal de desculpas e Dilma pode cancelar sua visita aos EUA, a única oferecida pelo governo dos EUA a um líder estrangeiro, em outubro deste ano.
As tensões na semana passada levaram a uma reunião improvisada entre Dilma e Barack Obama, presidente dos EUA, durante a reunião do G20, dos líderes das principais economias, na Rússia. Após a reunião, Obama disse que iria investigar as alegações.
Autoridades norte-americanas, incluindo Obama em uma viagem ao Brasil em 2011, e uma visita em junho do vice-presidente Joe Biden, citaram a importância de novas grandes descobertas de petróleo no País e assinalaram intenções de trabalhar em estreita colaboração com o país para as necessidades energéticas do futuro.
*Com informações da Reuters.SNB