Atingidos por rojões, os policiais
militares posicionados em frente ao Congresso Nacional, na última
quinta-feira, observavam os agressores, sem reagir. A aparente
passividade é uma das estratégias para o que, agora, tornou-se uma
prioridade para os órgãos de segurança pública: concentrarem-se na
identificação dos vândalos e mostrar que eles não ficarão impunes pelos
atos durante os protestos por todo o país. A meta é que os casos
solucionados se tornem exemplo e, assim, espantem os "arruaceiros" dos
movimentos, como a presidente Dilma Rousseff os definiu, no discurso em
cadeia nacional de rádio, na sexta-feira.
A Polícia Militar do Distrito Federal
usou câmeras durante a manifestação na Esplanada dos Ministérios para
tentar gravar os atos de violência. Assim, ainda que pudessem deter os
agressores, os policiais em ação preferiram não agir. Com receio de que
as prisões fizessem com que os manifestantes pacíficos se voltassem
contra a polícia e também partissem para a agressão, ou que falhassem no
momento de captura dos agressores, os agentes, estrategicamente,
ficaram de braços cruzados diante dos rojões atirados, enquanto os
rostos dos arruaceiros eram filmados.
O chefe do centro de comunicação da
PM-DF, coronel Zilfrank Antero, disse que as filmagens foram feitas para
que sejam planejadas as ações dos policiais nos próximos protestos.
"Vamos ver se a nossa atuação foi eficaz, como podemos melhorar e como
os manifestantes agiram", relata o coronel. As imagens servirão para
outro fim também. Foram enviadas à Secretaria de Segurança Pública do
DF, que, a partir delas, já identificou pelo menos sete suspeitos de
atos de vandalismo.
É uma das ações das equipes de
investigação. Além das imagens gravadas pela própria PM, os policiais
terão acesso também às cenas gravadas por um avião não tripulado que
sobrevoou a Esplanada durante o protesto de quinta-feira passada. O
aparelho é de uma empresa particular, cujo nome não foi informado pela
Polícia Militar, que se ofereceu para filmar as manifestações e fornecer
as gravações para a polícia. A intenção da empresa é vender uma dessas
aeronaves à corporação, que não informou se tem interesse na compra.
Os investigadores usarão também imagens
publicadas pela imprensa para identificar os agitadores. Esse
procedimento de usar gravações e fotos das manifestações repete-se em
órgãos de investigação de todo o país como principal método de
identificaçãos dos autores de ações violentas. As polícias usarão também
cenas capturadas por câmeras fixas das administrações públicas e
estabelecimentos comerciais, colocadas para monitorar o trânsito e a
segurança das cidades. As autoridades reafirmam em discursos e
entrevistas coletivas que os arruaceiros serão punidos.
Exemplo
Para o professor de ciências sociais da PUC Minas e especialista em
segurança pública, Luís Flávio Sapori, é preciso ter exemplos de
coibição da violência. "A polícia precisa focar na prisão dos vândalos. A
prisão deles pode ser muito pedagógica", avalia. É a mesma opinião do
ex-secretário nacional de Segurança Pública, coronel José Vicente da
Silva Filho. "Estamos falando em dano doloso (quando o autor prevê o
resultado de sua ação). É um crime. Essas pessoas precisam entender que
serão punidas."
Para o coronel, o trabalho preventivo dos
PMs está comprometido pela falta de preparação e de efetivo das
corporações, além da ausência de liderança para negociações, como o
trajeto das manifestações. Ele avalia que houve erro dos órgãos de
inteligência do Executivo. "Está muito claro que a Agência Brasileira de
Inteligência (Abin) falhou enormemente. Não conseguiu identificar o
movimento e alertar as autoridades para que elas tomassem decisões
antecipadamente", critica.
Surpreendida pela extensão dos protestos,
a Abin estruturou às pressas uma equipe para monitorar a internet, em
especial as redes sociais. Facebook, Twitter e Instagram estão sendo
vigiados por oficiais de inteligência. Nas cidades da Copa das
Confederações, os agentes tentam classificar os objetivos dos movimentos
e suas possíveis lideranças.
Para o delegado aposentado da Polícia
Federal Daniel Sampaio, embora não haja uma liderança aparente dos
movimentos, não se pode descartar, durante as investigações, a hipótese
de que hajam ações orquestradas (com objetivos de derrubar a ordem
social). Ele diz que as primeiras identificações podem levar a outras a
partir dos interrogatórios.
Três perguntas para
Luís Flávio Sapori, professor de ciências sociais da PUC Minas e especialista em segurança
É possível para as polícias fazerem um trabalho preventivo contra a ação de vândalos, em protestos?
Entendo que, com as caraterísticas desse movimento, que é de massa, fica
muito difícil fazer um trabalho preventivo. A única maneira de lidar
com a situação é a repreensão, dentro de protocolos técnicos já
conhecidos em todas as democracias. Nesse caso, a repreensão policial
não é autoritária nem antidemocrática.
É possível traçar um perfil do agitador?
É precipitado fazer essa análise. Podem haver eventuais vândalos
costumazes. Mas parece que ocorre também um vandalismo de forma
aleatória. O movimento de massa, sem líderes, perde o controle dos
impulsos individuais.
Como o senhor avalia a repetição desses atos?
O vandalismo é previsível em todas as grandes manifestações. Vejo com
muita preocupação o que está ocorrendo, porque esses atos têm crescido
com os movimentos. É uma grande ameaça a esse movimento popular, porque,
na medida que a bagunça for crescendo, o governo federal pode ser
pressionado a usar as Forças de Segurança Nacionais.
SNB