Pela segunda vez seguida na história da LAAD, um dos maiores destaques do show foi a “SMKB”. a surpreendente bomba com triplo sistema de guiagem da empresa curitibana Britanite - BSD (Britanite Sistemas de Defesa). Para decifrar os detalhes da origem e as características deste produto único do mundo, ALIDE entrevistou o Sr Nogueira Cândido, Gerente de Suporte Comercial da empresa.
ALIDE: Para começar, o que significa a sigla SMKB?
Nogueira Cândido: Ela quer dizer simplesmente “Smart MK Britanite” ou Bomba Inteligente Família MK-Britanite, em português.
ALIDE: Quando se iniciou verdadeiramente este programa SMKB?
NC: Este programa começou em novembro de 2009
ALIDE: Quem deu partida no programa SKMB, a FAB, a Organizações Odebrecht (Mectron) ou a Britanite?
NC: A Britanite é a proprietária do projeto, e as Organizações Odebrecht foram escolhidas para desenvolver o sistema de guiagem e a performance de vôo.
ALIDE: Que empresa será responsável pela comercialização interna e externa da SKMB?
NC: Esta será uma atividade exlusiva da Britanite Defence Systems.
ALIDE: Há anos a Britanite entrou na área de defesa ao receber do CTA o conjunto de especificações técnicas para a produção de bombas clones das bombas americanas da série Mk padrão (Mk81/82/83 e 84). Quanto tempo levou para que a empresa conseguisse colocá-las em produção seriada?
NC: Isso durou cerca de quatorze meses.
ALIDE: Não se aplica nenhuma questão de copyright sobre estes modelos básicos de bombas?
ALIDE: Quais foram os maiores obstáculos (tecnológicos e mercadológicos)
enfrentados pela empresa nesta fase?
NC: Certamente foram os ensaios em túnel de vento do DCTA/IAE e as análises matemáticas.
ALIDE: Existe algum plano para equipar a bomba SMKB com explosivos além do TNT como as de mistura combustível-ar?
NC: Não, hoje em dia utilizamos unicamente o chamado “Comp. B” [“Composition B” – uma mistura moldável dos explosivos RDX e TNT].
ALIDE: Na SMKB, qual a fatia respectiva do programa na mão da Britanite e na das Organizações Odebrecht?
NC: A Britanite produz as partes mecânicas, ativas, e realiza a comercialização. As Organizações Odebrecht são responsáveis pelo sistema de guiagem.
ALIDE: Quantas pessoas estão envolvidas neste programa e qual seu valor global nesta fase de desenvolvimento?
NC: Sobre isso, que posso dizer é que apenas duas empresas estão envolvidas, a Britanite proprietária da Bomba e as Organizações Odebrecht.
ALIDE: Todos os componentes novos que configuram os sistemas de guiagem e de asas da SMKB são usinados/fabricados internamente pelas Organizações Odebrecht e pela Britanite?
NC: Todos os componentes mecânicos são fabricados internamente pela Britanite, e os conjuntos e subconjuntos eletrônicos são fabricados internamente nas Organizações Odebrecht.
ALIDE: A idéia primária da Britanite para esta linha é a de vender apenas os kits de guiagem, ou, vender a nova bomba completa à FAB?
NC: Ambos os casos nos interessam. É inclusive oportuno ressaltar o apoio total da FAB nesse projeto.
ALIDE: A FAB optou por saltar as bombas guiadas a laser e ir direto para a guiada pelos sinais GPS/GLONASS e Galileo?
NC: Após uma pesquisa internacional de mercado junto aos futuros clientes, a Britanite-BSD optou por um sistema Wireless de sinais GPS/ GLONASS e Galileo. Nosso sistema é por INS/GPS (sistemas de nageção inercial e por GPS), ainda não utilizamos sistema a laser.
ALIDE: Em poucas palavras, como funciona a tecnologia dos sistemas globais de navegação via satélite?
NC: Eles funcionam através da triangulação dos sinais de satélites que possuem cada um, um relógio atômico sincronizado. A diferença de tempo entre a emissão do sinal do satélite e sua chegada no receptor indica a distância entre o receptor e o satélite, pois o sinal viaja com a velocidade conhecida da luz. Com as distancias para diferentes satélites e o conhecimento de suas órbitas, são triangulados a posição de receptor da bomba, logo a bomba em vôo sabe sempre seu ponto de espaço com precisão.
ALIDE: Qual a máxima precisão garantida pelas três redes de navegação satelital?
NC: A precisão de um sistema de posicionamento Global, varia conforme a posição geográfica do receptor/bomba e o tempo. Isto porque os satélites se movimentam ao longo de suas órbitas provocando condições mais ou menos adequadas para realizar a triangulação. Com múltiplos sistemas esta variação tende a ser menor.
ALIDE: Qual a margem de erro de projeto aceitável para a SMKB?
NC: A margem de erro máxima estipulada para nosso projeto é de 5 metros.
ALIDE: Qual a margem de erro alcançada?
NC: Digamos simplesmente que ela ficou “dentro do esperado”.
ALIDE: O sistema GPS não é considerado um sistema de navegação seguro pela aviação civil por seu sinal ser sujeito a interferência voluntária pelas FFAA dos EUA em caso de guerra. Existe alguma maneira do receptor da detectar que o sinal dos satélites foi alterado e que por isso o sinal GPS não é confiável?
NC: Justamente por isso é que a SMKB reconhece vários sistemas satelitais que, com a ajuda de softwares especiais, garantem precisão do sistema.
ALIDE: Os sinais dos sistemas GLONASS e Galileo são igualmente passíveis de interferência por seus operadores como o GPS?
NC: É até possível, porém sistemas redundantes de informação satelitais acabam por garantir a confiabilidade do sistema.
ALIDE: Como é a lógica de desconflito da cabeça de guiagem no caso dos três sinais recebidos. Ou mesmo de apenas um deles gerar dados de direcionamento divergentes?
NC: Software especiais comparam a dinâmica conhecida da Bomba com as posições determinadas pelos Sistemas filtrando possível dados corrompidos.
ALIDE: A lógica de uso dos três sistemas satelitais é GPS ou GLONASS ou Galileo? Ou, os três sinais são lidos separadamente e comparados uns com os outros durante o “glidepath” para gerar uma precisão ainda maior de determinação do ponto de impacto?
NC: Os três sinais são lidos separadamente e combinados através de um algoritmo de filtragem para gerar precisão final.
ALIDE: A SMKB causou muita curiosidade na LAAD 2009 porque uma bomba guiada por três sistemas separados não havia sido desenvolvido ainda por nenhum dos grandes países fornecedores de bombas. Para vocês, qual foi o retorno desta exibição (positivo e principalmente negativo) no plano comercial e político?
NC: O interesse internacional dos futuros clientes foi impressionante.
ALIDE: Os receptores e o processador dos sinais GPS/Galileo/GLONASS da bomba SMKB não são feitos no Brasil. Certo? Eles são produtos sem restrição de exportação, “ITAR free”? Eles seriam passíveis de terem sua venda ao Brasil e a outros países embargados pelos EUA ou por outra potência estrangeira?
NC: Não, todos os itens dos subconjuntos são produtos genuinamente brasileiros.
ALIDE: Para os senhores os aspectos aerodinâmicos deste programa foram os mais simples ou mais complicado do programa?
NC: O lado aerodinâmico foi muito trabalhoso, especialmente devido às especificações originais da Britanite e das Organizações Odebrecht.
ALIDE: Qual o perfil de emprego da bomba SMKB? Como é o seu perfil de vôo se lançada de alta ou de baixa altitude?
NC: Para se beneficiar de suas características únicas o ideal é o caça lançar a arma de grande altitude.
ALIDE: Existe algum plano de se adicionar um foguete booster à SMKB para lhe dar um maior alcance de emprego?
NC: Sim, futuramente, desenvolveremos variantes da SMKB com “booster” e também com asas de planeio para aumentar o alcance da arma e dar mais segurança ao avião lançador
ALIDE: O que a companhia teve que fazer para convencer ao mercado que o programa iria além de uma simples maquete 1:1 metálica?
NC: Muita pesquisa de mercado junto aos futuros clientes.
ALIDE: Fazer uma bomba com guiagem tripla é necessariamente mais complexa do que fazer uma guiada por apenas um sistema, lançar e industrializar um produto mais simples antes de seguir para o sistema triplo não seria uma iniciativa prudente?
NC: Inicialmente, os nossos primeiros testes foram feitos com um sistema único de GPS, seus resultados nos encorajaram a lançar o produto definitivo com três sistemas.
ALIDE: Como é a integração da bomba com o sistema de combate da aeronave?
NC: Nossa solução wireless é completamente independente do sistema de combate do avião. No final, não há realmente nada a ser “integrado” para permitir o uso da SMKB.
ALIDE: Como é a interface do piloto com o sistema de guiagem da nova bomba?
NC: É um pequeno painel instalado no interior da cabine, um equipamento portátil, usando tecnologia wireless, que é capaz de comunicar diretamente com a bomba sem precisar a instalação de qualquer fiação específica no avião lançador.
ALIDE: Como funciona o sistema de interface wireless entre o piloto e a bomba?
NC: A bomba calcula automaticamente o envelope de lançamento, informado via o sistema wireless AP painel do piloto quando a aeronave já se encontra no ponto ideal de lançamento.
ALIDE: Existe algum risco deste sistema wireless sofrer interferência por sistemas de guerra eletrônicos inimigos, impedindo assim a transferência da informação do ponto de impacto desejado à bomba?
NC: Desenvolvemos softwares de proteção anti-jamming, encriptados, que garantem soberania total do sistema, aspecto também reforçado pelo emprego de um diagrama de radiação altamente diretivo.
ALIDE: Qualquer avião que atualmente pode lançar bombas do padrão MK americano pode ser usado para lançar a SMKB?
NC: Sim, é isso, positivo.
ALIDE: Os testes realizados em Dezembro de 2010 em Natal foram satisfatórios?
NC: Sim, para nós o resultado foi excelente.
ALIDE: Quanto tempo durou esta campanha de tiros e quantas pessoas foram envolvidas nela?
NC: Em seu total, o período da campanha de testes em Natal foi de duas semanas Infelizmente, sobre o resto, não posso comentar.
ALIDE: A SMKB estava muito destacada no stand da Britanite na LAAD 2011, que tipo de interesse ela provocou entre os membros das delegações estrangeiras?
NC: Foi extremamente positivo o interesse internacional pela SMKB.
ALIDE: E entre os demais fabricantes estrangeiros de armamento?
: Estes demonstraram bastante interesse em conhecer este sistema de múltiplos sinais globais de navegação e também o sistema de controle wireless.