Os porta-aviões de fabricação chinesa Liaoning e Shandong são, de fato, 'irmãos' do legendário cruzeiro pesado soviético Almirante Kuznetsov. Porém, por que uma potência marítima tão grande como a China utiliza tecnologias soviéticas na sua indústria naval?
Segundo a opinião de vários especialistas, Pequim vai adquirindo desta maneira experiência para fabricar porta-aviões de ataque da nova geração. O analista militar Alexei Krivopalov explicou algumas razões para esta estratégia no seu artigo para a agência Ridus.
Necessidade geopolítica
Devido à sua localização geográfica, o gigante asiático utiliza ativamente suas rotas marítimas tanto para exportação de produtos de fabricação nacional como para importar hidrocarbonetos através do estreito de Malaca e do oceano Índico.No longo prazo, Pequim vai aumentar o papel da marinha na defesa do país. De acordo com Krivopalov, a China pretende excluir a possibilidade de uso de suas águas territoriais como teatro de guerra. Além disso, o gigante asiático deseja controlar as zonas costeiras, posto que a disponibilidade de águas seguras simplifica consideravelmente o posicionamento de submarinos de cruzeiro na região.
Protegendo as costas
Pequim prevê salvaguardar as regiões costeiras do país ao incluir o estreito de Taiwan e o mar do Sul da China num complexo quadro de isolamento. Este sistema consta de numerosos pontos de lançamento de mísseis localizados ao longo da costa. Assim, a costa na região do estreito de Taiwan conta com até 2.000 mísseis, incluindo nucleares, de forma a Pequim ser capaz de controlar as bases estadunidenses em Guam, Coreia do Sul e Japão. Devido à presença dos novos sistemas de mísseis DF-21D, os navios estadunidenses da Frota do Pacífico se verão obrigados a retroceder no caso de um conflito militar com a China.Além dos sistemas antimísseis localizados nas costas chinesas, Pequim também conta com numerosos aviões em 39 aeródromos militares. Por sua parte, os porta-aviões chineses e as aeronaves militares serão capazes de aumentar a resistência e as possibilidades de combate da chamada “frota mosquito”. Atualmente, a resistência à Armada dos EUA tem carácter secundário, de modo que as viagens marítimas se realizam com fins de treinamento e para demonstração de força.
Experiência soviética para as futuras tecnologias chinesas
Em 2015, a Armada do Exército Popular de Libertação da China contava com 21 contratorpedeiros, 56 fragatas, quatro porta-helicópteros e 107 navios de desembarque de diferentes tipos.A quantidade exata de submarinos deste país asiático é desconhecida. Segundo o relatório do The Military Balance publicado pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, abreviação em inglês), o gigante asiático dispõe de 61 submarinos, cinco deles são nucleares, enquanto que o Pentágono eleva essa quantidade para pelo menos 70.
Ao mesmo tempo, o nível técnico e militar dos navios chineses é inferior em comparação com seus análogos ocidentais. Para reverter a situação, os engenheiros e construtores chineses tomaram como referência os planos do porta-aviões soviético para serem capazes de desenhar posteriormente sua própria versão avançada do navio do projeto 1143.6.
Os riscos que enfrenta a China
O cruzador soviético Admiral Kuznetsov não conta com uma catapulta de vapor, necessária para lançar aviões a partir do convés do navio. Isso exclui a presença de aeronaves pesadas de alerta avançado, que não são capazes de decolar do trampolim.
Além disso, ele não conta com um deslocamento suficiente. Porém, os fabricantes chineses carecem de experiência e tecnologias para renovar o projeto de maneira tão radical.
O futuro da frota chinesa
O especialista sublinhou que a China não planeja se converter em uma potência marítima semelhante aos EUA e entrar em uma corrida armamentista no mar, posto que praticamente não tem nenhuma oportunidade contra Washington. Desta maneira, os porta-aviões chineses Liaonin e Shandong — apesar de terem algumas deficiências — são os primeiros passos dum longo caminho.