É possível que a primeira vítima do novo conceito militar norte-americano seja Coreia do Norte, afirma o artigo no portal russo
Gazeta.ru.
A informação sobre a criação desse sistema foi apresentada pelo representante do Ministério da Defesa russo, Aleksandr Emelyanov, durante uma sessão russo-chinesa sobre a defesa antiaérea no âmbito da Primeira Comissão da Assembleia Geral da ONU.
Segundo declarou o alto funcionário russo, em caso de um "ataque incapacitante" contra as forças nucleares estratégicas da Rússia e da China, a eficácia do sistema de defesa antimíssil dos EUA vai crescer exponencialmente.
Um sistema de dominação
O artigo do Gazeta.ru assinala que o Ataque Global Imediato é uma iniciativa das Forças Armadas dos Estados Unidos que busca criar uma arma que permita realizar um ataque incapacitante em massa contra qualquer país, em um prazo de apenas uma hora, usando as armas convencionais.
O projeto supõe que essas armas desabilitariam os centros de comando político e militar do inimigo, assim como destruiriam suas redes de comunicação, silos de mísseis, sistemas de mísseis estratégicos móveis, submarinos nucleares estratégicos e unidades da aviação estratégica, afirmou o colunista do Gazeta.ru Mikhail Khodarenok.
No caso de o inimigo conseguir lançar seus mísseis balísticos intercontinentais em resposta ao ataque norte-americano, o plano propõe neutralizá-los com o sistema nacional de defesa antimíssil dos EUA, bem como com o uso de sistemas antimíssil implantados nos territórios dos países aliados de Washington e nos navios de guerra da Marinha norte-americana, acrescentou.
Em circunstâncias ideais, um "ataque relâmpago" dos EUA deve excluir qualquer possibilidade de o inimigo poder utilizar suas armas estratégicas ou nucleares.
Para cumprir esta tarefa, o Pentágono prevê a utilização de todo o poderio do Exército, da Marinha e da Força Aérea. Os militares norte-americanos levariam a cabo um ataque com mísseis de cruzeiro de diferentes tipos contra as instalações inimigas que conhecem.
De acordo com o colunista do Gazeta.ru, é possível que as unidades de defesa antimíssil dos Estados Unidos estacionadas na Europa do Leste também participem do suposto ataque. Isso se explica com o fato de os sistemas de lançamento Mk41, que fazem parte da DAM norte-americana na Europa, serem capazes de usar mísseis Tomahawk.
Além disso, o plano do "ataque relâmpago" pressupõe o destacamento de navios da Marinha dos EUA e de seus aliados com capacidades de defesa antimíssil em águas adjacentes ao território inimigo, apontou Khodarenok. Supõe-se que estes ativos militares dos EUA participem tanto da fase inicial do ataque como do derrube dos mísseis balísticos do inimigo.
Está programado que até o ano de 2022 a quantidade de mísseis antibalísticos instalados em navios da Marinha dos EUA e na parte continental do país norte-americano alcance as 1.000 unidades. De acordo com os projetistas do Ataque Global Imediato, isso permitirá que o Pentágono neutralize com facilidade os mísseis balísticos inimigos restantes.
Nas etapas seguintes do ataque, as Forças Armadas dos Estados Unidos planejam continuar atacando o inimigo com a sua aviação usando todos os tipos de armas de alta precisão. O colunista ressalta que o arsenal dos Estados Unidos é enorme e é muito provável que Washington "tenha muitos ases na manga" para poder tomar de surpresa seu rival.
Contra quem foi preparado o plano?
"Então surge a pergunta: contra quem aponta e quem é o principal rival dos Estados Unidos?", questiona em entrevista ao portal Gazeta.ru o ex-vice-chefe da Direção Geral Operacional do Estado-Maior das Forças Armadas russas, tenente-general Valery Zaparenko.
"É um fato bem conhecido que apenas um país no mundo é capaz de reduzir a cinzas os Estados Unidos e, o que é mais importante, pode fazê-lo várias vezes. Nenhum terrorista ou regime inamistoso de qualquer parte do mundo estará apto para fazê-lo. Por isso, [deduzo que] o plano do Ataque Global Imediato esteja dirigido contra a Rússia", declarou o militar.
Do ponto de vista do ex-primeiro-vice-comandante das Forças de Defesa Antiaérea russa, coronel-general Vladimir Litvinov, o projeto do "ataque relâmpago" dos EUA reduz significativamente a capacidade russa de executar um ataque de resposta com armas nucleares.
"Em caso de um ataque, as capacidades de nosso sistema nacional de alerta de um ataque com mísseis serão consideravelmente limitadas porque esse sistema está ajustado para detectar lançamentos de mísseis balísticos intercontinentais a partir da parte continental dos Estados Unidos, ou de mísseis balísticos de submarinos dos EUA localizados nos oceanos Atlântico e Pacífico", disse.
Segundo explicou o militar, se Washington decidir fazer uma "ofensiva" com mísseis de cruzeiro de diferentes tipos a partir de uma distância de apenas algumas centenas de quilômetros, os altos cargos políticos do país quase não teriam tempo suficiente para tomar uma decisão sobre um ataque de resposta.
"Há que se tomar muito a sério esses projetos dos Estados Unidos. Não obstante, acredito que para os EUA seria extremamente difícil evitar uma guerra nuclear se ousassem lançar o seu 'ataque relâmpago global'", disse o ex-chefe de gabinete da Direção Geral Operacional do Estado-Maior russo, tenente-general Nikolai Moiseev.
O militar destacou que, além de mísseis balísticos, há uma grande quantidade de armas equipadas com material nuclear.
Entre elas, projéteis de artilharia com carga nuclear, ogivas nucleares dos sistemas de mísseis táticos e operacionais, assim como bombas atômicas de queda livre, minas nucleares das Tropas de Engenharia e diversas munições nucleares da Marinha, enumerou o entrevistado.
Moiseev duvida que os Estados Unidos sejam capazes de destruir todo este arsenal em apenas 60 minutos. Neste sentido, uma guerra nuclear parece ser inevitável, salientou.
Os especialistas entrevistados pelo portal russo disseram que, a curto prazo, os Estados Unidos, possivelmente experimentem esta tática na Coreia do Norte.
"O objetivo principal do Pentágono é impedir que haja um lançamento de um míssil balístico norte-coreano, assim como evitar qualquer explosão de uma arma nuclear de Kim Jong-un. Se a 'estreia' do 'ataque relâmpago' culminar com sucesso — e cabe admitir que Washington tem tudo a seu favor — os EUA vão ter o desejo irresistível de voltar a aplicar a teoria do Ataque Global Iminente contra outro país", concluiu Khodarenok.