quarta-feira, 1 de novembro de 2017

China quer acabar com os hackers e dominar o mundo com a ajuda da física quântica

No final de setembro ocorreu um evento histórico na China. Uma equipe de criptógrafos e físicos chineses da Academia de Ciências realizou uma chamada de vídeo de meia hora com seus homólogos em Viena, usando criptografia quântica, uma tecnologia pioneira que torna impossível piratear ou ouvir comunicações.
A inovação é uma mudança radical no mundo da segurança, conforme publicado pela revista norte-americana Newsweek.
Embora o estudo deste tipo de tecnologia seja realizado em diferentes instituições do mundo ocidental, como, por exemplo, a Universidade da Califórnia, apoiada pelo Google, e a Universidade Técnica de Delft na Holanda, apoiada pela União Europeia, são os chineses que fizeram o maior progresso em termos de sua implementação.
Um mundo sem "hackers"
A ferramenta abre horizontes de segurança cibernética até então desconhecidos para a China. Com este tipo de codificação, o sonho de uma comunicação perfeitamente segura se torna realidade, o que poderia libertar o mundo de problemas como fraude on-line ou roubo de identidade, bem como ataques de hackers e espionagem eletrônica.
Por outro lado, a ferramenta também pode permitir que terroristas e criminosos se comuniquem sem serem detectados e que os governos possam ocultar segredos sem que ninguém os descubra.
No mundo da criptografia indecifrável, toda comunicação eletrônica humana poderia se tornar completamente privada, o que teria conseqüências inconcebíveis ao nível da segurança cibernética. Tudo isso daria à China um poder ilimitado sobre as informações, se este país se tornar o único fornecedor de criptografia quântica. E, precisamente, é o que o governo chinês procura alcançar, aparentemente.
"Cifras mais próximas a inquebráveis"
A chamada entre Pequim e Viena foi feita através de uma conexão convencional através do Skype. No entanto, o aspecto revolucionário foi o código de criptografia da chamada, extremamente seguro porque foi gerado em um dispositivo quântico montado em um satélite chinês.
A criptografia quântica é a coisa mais próxima das cifras inquebráveis que possivelmente possamos obter", disse à Newsweek Artur Ekert, professor da Universidade de Oxford e inventor do modelo em que os chineses basearam seu sistema. "Ao contrário dos sistemas matemáticos, a criptografia quântica é baseada nas leis da física, que não podem ser quebradas", emendou.
Como funciona a criptografia quântica?
O método de criptografia de Ekert é baseado em um efeito extraordinário conhecido como emaranhamento quântico, que ainda não é totalmente explicado pela ciência. Mesmo Albert Einstein, ao descobri-lo, descreveu-o como uma "ação assustadora à distância".
Sob este efeito, duas partículas leves, conhecidas como fótons, copiam exatamente o comportamento um do outro, mesmo que sejam separadas por grandes distâncias. Durante a chamada histórica entre Pequim e Viena, cientistas — com a ajuda do emaranhamento quântico — conseguiram criar um código secreto composto por uma série de informações que aparecem simultaneamente em diferentes cantos da Terra.
O sinal quântico, em todo o mundo
A China gastou bilhões de dólares — o custo real do projeto é desconhecido — para criar uma infraestrutura que lhe permite transmitir códigos quânticos em todo o país. A nação possui estações de base, satélites e milhares de quilômetros de cabo de fibra óptica para transmitir sinais quânticos.
De acordo com uma fonte de segurança anônima citada pela publicação, pelo menos 600 ministros chineses e oficiais militares estão usando códigos quânticos para realizar suas comunicações confidenciais.
De acordo com os comentários na revista Ciência e Tecnologia do principal pesquisador do projeto quântico chinês, o físico Pan Jianwei, em cinco anos a nação lançará um novo satélite que orbitará a Terra a uma altitude de 20 mil quilômetros e cobrirá uma área muito mais vasta do planeta.
Além disso, a estação espacial tripulada chinesa, cuja implementação está prevista para 2022, terá uma carga útil que permitirá experiências com comunicações quânticas. O objetivo final é a criação de um sistema de satélites geoestacionários que pode abranger toda a superfície do mundo.

Forças Armadas brasileiras simulam guerra cibernética com mais 5 países

Militares especialistas em guerra eletrônica participaram, na semana passada, do I Exercício Ibero-Americano de Defesa Cibernética, no Centro de Instrução de Guerra Eletrônica, em Brasília, com a participação de especialistas da Argentina, Colômbia, Espanha, México, Portugal e observadores peruanos.
O objetivo foi desenvolver competências na área cibernética e estreitar a cooperação entre as forças armadas dos países envolvidos. A iniciativa, do Comando de Defesa Cibernética, visa a aperfeiçoar tecnologias e sistemas integrados que permitam a identificação e neutralização de possíveis ataques cibernéticos que ofereçam ameaça à soberania nacional.
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o coronel-aviador Paulo Sérgio Porto, chefe da Divisão de Operações Conjuntas do Estado-Maior do Comando de Defesa Cibernética, diz que a realização de exercício como o deste final de outubro aprimoram a estratégia como atividade de combate cada vez mais importante no cenário mundial por promoverem o aprimoramento e a troca de experiências entre nações amigas.
Porto lembra que o Comando de Defesa Cibernética foi criado em janeiro de 2015, tendo seus objetivos estabelecidos em março de 2016, tendo como principal objetivo a proteção e defesa dos ativos de informação da administração central do Ministério da Defesa. Com relação à cooperação com outros países, em especial da América Latina, Porto observa:
A segurança é um objetivo contínuo das organizações de forma que continuamente buscamos estabelecer critérios de risco inerentes aos ativos da informação, e realizar seu gerenciamento, os reduzindo às infraestruturas críticas da informação de interesse da defesa nacional, bem como contribuir para a segurança dos ativos de informação da Administração Pública Federal no que se refere à segurança cibernética situados fora do âmbito do Ministério da Defesa."
O chefe do Comando de Defesa Cibernética diz que todo esse trabalho reúne não só a elite da comunidade tecnológica de informação das Forças Armadas como também há cooperações com entidades civis.
Uma de nossas atribuições é de ficar em condições de integrar com futuras estruturas a serem criadas no âmbito do Ministério da Defesa e das Forças Armadas, assim como proporcionar condições para que o sistema de ciência e tecnologia do ministério  realizem pesquisa e desenvolvimento, visando à prospecção tecnológica e científica em conjunto com instituições acadêmicas e de pesquisas nacionais. Desta forma realizamos e fomentamos a cooperação com instituições privadas e especialistas civis no país", diz o coronel-aviador.
Os recursos alocados no Comando de Defesa Cibernética são distribuídos na articulação de ouras instituições na internet, treinamento e capacitação de pessoal, além da criação de ferramentas, inteligência cibernética, modelos de criptografia, entre outros. No Brasil, os programas militares  são de natureza defensiva.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Exército recebe viaturas do Programa ASTROS 2020

Formosa (GO) – No dia 30 de outubro, o 6º Grupo de Mísseis de Foguetes (6º GMF) foi palco de uma cerimônia para a entrega de 12 viaturas modernizadas, no padrão MK3M, ao Exército Brasileiro. Elas fazem parte do terceiro lote de veículos entregues e atendem a mais uma etapa do Programa Estratégico do Exército ASTROS 2020.

As viaturas-lançadoras foram apresentadas durante a solenidade, presidida pelo Chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército, General de Exército Juarez Aparecido de Paula Cunha. Após o processo de modernização, todas foram dotadas de tecnologia digital similar à da versão MK6. O presidente da Empresa Estratégica de Defesa Avibras, João Brasil Carvalho Leite, realizou a entrega simbólica das chaves ao Comandante do 6º GMF, Tenente-Coronel Elson Lyra Leal.
A remodelagem das viaturas da versão MK3 para MK3M do Sistema ASTROS compreende os trabalhos de engenharia e a execução das atualizações mecânicas, eletromecânicas, eletrônicas e de software de comando e controle, com o objetivo de melhorar o desempenho e a capacidade. O recebimento desses produtos de defesa contribui para a evolução e a consolidação da Artilharia de Mísseis e Foguetes, representando um salto tecnológico de capacidade, de eficiência e de efetividade para o apoio de fogo da Força Terrestre.
Para o Comandante Logístico do Exército Brasileiro, General de Exército Guilherme Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, este é um momento bastante significativo para a modernização da segurança nacional, por meio do ASTROS 2020, ainda com o benefício da considerável economia financeira alcançada no processo de remodelagem das viaturas. “E assim o Forte Santa Bárbara torna-se uma realidade, uma grande potência de fogo no Centro-Oeste”, concluiu.
O presidente da Avibras complementou que o ASTROS 2020 é resultado de uma parceria consistente entre a Força Terrestre e a indústria bélica nacional, o que coloca o Brasil entre as principais nações no domínio de novas tecnologias.
Participaram, ainda, da solenidade o Secretário de Economia e Finanças do Exército, General de Exército Antônio Hamilton Martins Mourão; o Chefe do Estado-Maior do Exército, General de Exército Fernando Azevedo e Silva; autoridades do Ministério da Defesa e comandantes de organizações militares da Guarnição de Brasília.
Projeto Estratégico ASTROS 2020
O Programa Estratégico do Exército ASTROS 2020 busca a dissuasão extrarregional para a defesa do Brasil. Alinhado com a Estratégia Nacional de Defesa, o Sistema é um dos sete programas indutores da transformação do Exército Brasileiro.
Iniciou-se em 2012, com a assinatura de dois contratos com a Avibras Indústria Aeroespacial S/A, companhia 100% nacional e que fabrica produtos de defesa, com a finalidade de desenvolver um míssil tático de cruzeiro, com alcance entre 30 e 300 km; e um foguete guiado de elevada precisão, com alcance de 40 km.
Ainda como projetos integrantes do Programa ASTROS estão: a aquisição de novos veículos de combate; a modernização das viaturas do 6º GMF; o Sistema Integrado de Simulação ASTROS (SIS-ASTROS), que trabalha ambientes operacionais virtuais de combate; e o Forte Santa Bárbara, criado com a finalidade de reunir, em um único local, as organizações militares operacionais de mísseis e foguetes, um estabelecimento de ensino, um centro de logística, uma unidade de busca de alvos, unidades administrativas e um campo de instrução adequado para treinamento. O término do programa está previsto para 2023.
FONTE: Exército Brasileiro

Sistema ASTROS aumenta dissuasão estratégica de defesa

Por Gen Bda José Júlio Dias Barreto​
O Programa Estratégico do Exército ASTROS 2020 busca a dissuasão extrarregional para a defesa do Brasil. Alinhado com a Estratégia Nacional de Defesa, o Sistema é um dos sete programas indutores da transformação do Exército Brasileiro.
Iniciou-se em 2012, com a assinatura de dois contratos com a Avibras Indústria Aeroespacial S/A, companhia 100% nacional e que fabrica produtos de defesa, com a finalidade de desenvolver um míssil tático de cruzeiro, com alcance entre 30 e 300 km; e um foguete guiado de elevada precisão, com alcance de 40 km. O término do programa está previsto para 2023.
O Sistema ASTROS é composto por viaturas mecanizadas com tecnologia avançada e complexa. Esses veículos possuem subsistemas que incluem radares, computadores, navegação por GPS, sistemas inerciais e de comunicação por rádio digital, estações meteorológicas e sistemas mecânicos, hidráulicos, pneumáticos e de motores a diesel.
O programa possui em sua Estrutura Analítica, além dos produtos citados, a aquisição de novas viaturas no padrão MK6, a modernização de viaturas MK3 para MK3M (com o mesmo nível tecnológico das novas), o desenvolvimento de um sistema de simulação integrado e a construção de instalações no Forte Santa Bárbara, em Formosa (GO).

Projetos integrantes do Programa ASTROS

Mísseis Táticos de Cruzeiro AV-TM 300 (alcance de 300 km)
São artefatos aéreos que transportam, autonomamente, uma carga útil a longas distâncias, sendo capazes de atingir alvos com precisão da ordem de dezenas de metros. Tal requisito exige tecnologias avançadas, especialmente, nas áreas de sistemas de navegação, controle, guiamento, aeronáutica e combustão.
Nesse contexto, o Exército contratou a AVIBRAS para pesquisar e desenvolver o Sistema de Míssil Tático de Cruzeiro, a ser disparado a partir da plataforma do Sistema ASTROS, em uso pela Força Terrestre. O produto permitirá ao Brasil ser a sétima nação a ter o domínio dessa tecnologia.
Além do mais, permitirá que empresas nacionais pesquisem e desenvolvam produtos de alta tecnologia, com benefício para toda a sociedade, em razão do emprego dual. O projeto envolve mais de cem empresas brasileiras, absorvendo mão de obra especializada oriunda dos polos de ciência e tecnologia.
Foguete Guiado AV-SS 40 GO Foguete Guiado AV-SS 40 G é uma evolução tecnológica natural do sistema de artilharia de foguetes para saturação de área. Beneficia-se das tecnologias atuais dos sensores inerciais (Sistemas Microeletromecânicos – MEMS), dos sistemas de navegação de constelação de satélites (GNSS), da miniaturização dos componentes eletrônicos e do aumento da capacidade de processamento de dados. O foguete equipara-se a uma munição inteligente, cujo objetivo é reduzir o tamanho da área batida, minimizar o dano colateral e os efeitos indesejados sobre as áreas próximas ao alvo.
O AV-SS 40 G colocará o Brasil entre as dez nações do globo a terem o domínio dessa nova munição e permitirá que empresas nacionais pesquisem e desenvolvam produtos de alta tecnologia. Assim como os mísseis táticos, o Foguete Guiado também envolve mais de cem empresas e aproveita mão de obra especializada na área de ciência e tecnologia no Brasil.
Aquisição de novas viaturas do Sistema ASTROS
O Sistema ASTROS é um produto de defesa consagrado desde a década de 1980 e é comercializado para vários países, como Arábia Saudita, Catar, Indonésia, Iraque e Malásia. No momento, encontra-se na sexta versão de atualização tecnológica, denominada MK-6, com capacidade de disparar, de um único lançador, toda a família de foguetes e, em breve, o míssil tático de cruzeiro.
As novas viaturas mobiliarão o futuro 16º Grupo de Mísseis e Foguetes, organização militar integrante do Forte Santa Bárbara.
Modernização das viaturas do Sistema ASTROS do 6º Grupo de Mísseis e Foguetes
O Exército utiliza as versões MK2 e MK3 do Sistema ASTROS, ambas da década de 1980, com tecnologia analógica e alguns itens com tempo de vida útil esgotado. A modernização das viaturas do Sistema ASTROS compreende os trabalhos de engenharia e a execução das atualizações mecânicas, eletromecânicas, eletrônicas e de software de comando e controle, com o objetivo de melhorar o desempenho e a capacidade, por meio da introdução da mesma tecnologia digital da versão MK6.
O projeto de modernização é de propriedade intelectual do Exército Brasileiro, permitindo à administração pública atingir o princípio da economicidade, ao custo de 1/3 do valor de aquisição de novas viaturas. Permitirá à Força possuir dois Grupos de Mísseis e Foguetes, capazes de cumprir a missão de dissuasão extrarregional.
Sistema Integrado de Simulação ASTROS (SIS-ASTROS)
A simulação de ambientes operacionais de combate é ferramenta de elevada importância, tanto no cenário de adestramento das tropas, quanto no de comandantes de frações. Assim, esse projeto visa contribuir com o desenvolvimento de um sistema de simulação, que proporcione o adestramento de militares que operam o Sistema ASTROS, especificando interfaces de integração com outros sistemas de simulação do Exército.
O desenvolvimento desse novo sistema de simulação atenderá às demandas do treinamento assistido por computador, o qual está relacionado com as diversas capacidades técnicas no domínio de tecnologias da computação: a) Visão computacional; b) Sistemas embarcados; c) Especificação, validação e teste de software; d) Sistemas de tempo real; e) Computação gráfica; f) Sistemas de simulação; g) Sistemas multiusuários; h) Interoperabilidade; i) Inteligência artificial, entre outras. Além disso, com a simulação, destaca-se a economia de meios, a um custo extremamente reduzido, se fosse comparada ao treinamento real.
Diante desse cenário, o Exército firmou um Termo de Cooperação com a Universidade Federal de Santa Maria, o que permitiu a inserção de professores e alunos no projeto, alinhando-o com a Estratégia Nacional de Defesa, no tocante ao desenvolvimento das capacidades de adestramento e de pessoal, à integração com a comunidade acadêmica e ao desenvolvimento conjunto de tecnologia relevante na área de defesa.
Forte Santa BárbaraFoi criado com a finalidade de reunir, em um único local, as organizações militares operacionais de mísseis e foguetes, um estabelecimento de ensino, um centro de logística, uma unidade de busca de alvos, unidades administrativas e um campo de instrução adequado para treinamento. Agrupou, também, o ensino, a logística e a operacionalidade do sistema de mísseis e foguetes do Exército.
O Forte Santa Bárbara será composto de um comando de artilharia, duas unidades de mísseis e foguetes, um centro de instrução, um centro de logística, uma base de administração e uma unidade de busca de alvos. A criação do Forte incrementa a construção civil, gera mais de dois mil empregos diretos e indiretos, e receita para a região de Formosa. Além das unidades militares, o projeto contempla a construção de residências funcionais para os militares e suas famílias, atendendo à dimensão humana da Instituição.
FONTE: Exército Brasileiro

Malvinas são campo de treinamento ideal para o armamento mundial'

A Argentina protestou contra os treinamentos militares programados entre 30 de outubro e 3 de novembro, onde estão participando 1.500 efetivos do governo britânico no arquipélago.
Sputnik Mundo falou com o veterano e integrante do Centro de ex-Combatentes das Ilhas Malvinas (CECIM), Ernesto Alonso, sobre manobras militares do Reino Unido no arquipélago do Atlântico Sul.
É o mesmo tipo de exercícios que vem realizando a Grã-Bretanha na área. Faz parte da militarização do Atlântico Sul utilizada pelo império para apropriação dos recursos naturais e minerais e acesso ao continente antártico. Malvinas são um enclave estratégico ideal para tudo isso. O que está acontecendo é algo que afeta toda a região", disse Alonso.
Em setembro de 2016, Argentina e Grã-Bretanha assinaram acordo Foradori-Duncan. Através de sua assinatura, o governo argentino fez concessões comerciais para Londres, retomou os voos para o continente do arquipélago e resolveu explorar em conjunto tanto a pesca como hidrocarbonetos na zona marítima do conflito. Este acordo recebeu duras críticas da oposição e dos ex-combatentes das Malvinas.
O governo argentino protestou formalmente divido aos exercícios militares britânicos nas ilhas Malvinas. A reclamação foi apresentada em 26 de outubro pelo vice-chanceler Daniel Raimondi em uma nota entregue à embaixada do Reino Unido.
Lá se reafirma que a Grã-Bretanha "desconhece resoluções das Nações Unidas e de outras organizações internacionais, que apelam para ambos os países a retomar as negociações a fim de encontrar uma solução pacífica e definitiva para a disputa de soberania". Por outro lado, avisa que deixará o secretário-geral das Nações Unidas e a secretário-geral da Organização Marítima Internacional a par da situação.
"Além da reivindicação pontual, a posição do governo argentino gerou um retrocesso enorme. O oficialismo afirma que as nossas Forças Armadas realizem exercícios militares conjuntos com as forças de ocupação. Isso foi incluído no acordo [Foradori-Duncan] que representa um afastamento da doutrina histórica com que a Argentina vinha trabalhando neste tema. Evidencia-se, deste modo, uma posição para beneficiar os interesses britânicos", disse o veterano.
Alonso explicou que as ilhas Malvinas, com uma área de cerca de 12.000 quilômetros quadrados, são um "campo de treinamento ideal" para as últimas tecnologias do armamento mundial.
"Como se trata de um lugar com população pequena [cerca de 3.000 habitantes] os treinamentos das Forças Armadas britânicas não interferem na vida de seus habitantes, permitindo, assim, o teste de armamento convencional e de dispositivos sofisticados de espionagem, bem como o desenvolvimento científico e tecnológico com aplicação militar projetado até a Antártida, como os sistemas HAARP em Ganso Verde, utilizados para estudar a mudança climática, ou induzi-lo", concluiu.
O entrevistado fez referência ao sistema High Frequency Active Auroral Research Program (HAARP, na sigla em inglês). Trata-se de um programa financiado pela Força Aérea e a Marinha dos Estados Unidos, cujo objetivo é estudar as propriedades da ionosfera e potencializar os avanços tecnológicos que permitam melhorar a sua capacidade de favorecer a comunicação por rádio e os sistemas de vigilância. Este projeto vem despertando críticas quanto à camuflagem de um estudo científico para propósitos militaristas.
A Argentina reivindica a soberania das ilhas Malvinas desde 1833, ano em que o Reino Unido passou a ocupar o arquipélago. Desde então os dois países mantêm uma disputa sobre a soberania da região, o que fez com que, em abril de 1982, a ditadura argentina (1976-1983) tentasse recuperá-las por meio de uma guerra que terminou em 14 de junho do ano em questão com derrota argentina. Reino Unido e Argentina retomaram suas relações diplomáticas em fevereiro de 1990, durante a gestão do ex-presidente Carlos Menem (1989-1999).

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Almirante Othon: ‘Minha condenação interessa ao sistema internacional’

Libertado pela segunda vez, ele rebate acusações e conta a saga da tecnologia nuclear nacional

Por Carlos Drummond
Pouco antes de ser libertado da prisão na Base de Fuzileiros Navais de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, na quarta-feira 11, pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região, o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, 78 anos, encaminhou a CartaCapital as respostas às questões da entrevista a seguir.
Segundo o advogado Fernando Augusto Fernandes, o seu cliente, que é considerado o Pai do Programa Nuclear Brasileiro, é inocente de todas as acusações que levaram à sua condenação a 43 anos de reclusão pela Lava Jato, na ação penal que investiga supostos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, embaraço a investigações, evasão de divisas e organização criminosa na construção da usina nuclear de Angra 3.
Como é comum na operação, chama atenção Fernandes, um “ouvi dizer” pronunciado por um delator premiado bastou para mandar à cadeia e com pena recorde na Lava Jato, só equiparável àquela do ex-governador Sérgio Cabral, um pesquisador e inventor que dedicou a vida ao País e à alta tecnologia nacional.
“O almirante Othon de fato recebeu cerca de 3 milhões de reais quando era presidente da Eletronuclear, não por ato realizado na presidência da empresa nem relacionado à obra de Angra 3, mas por um estudo feito anteriormente em que empenhou seu conhecimento científico. O detalhe fundamental está aí”, sublinha Fernandes.
“Para constituir crime de corrupção, teria de haver a indicação, pelos delatores, de algum ato que ele tenha realizado como presidente da Eletronuclear, ou anterior a isso, na forma de promessa, que gerasse alguma vantagem. Não existe”, acrescenta o advogado.
A carreira em prol do País, as honrarias que lhe foram conferidas no Brasil e no exterior, a importância estratégica das suas descobertas e a truculência dos inquisidores, que o levaram a uma tentativa de suicídio na cadeia, são narradas abaixo pelo almirante.
CartaCapital: A que atribui a existência das acusações que lhe são feitas?
Othon Luiz Pinheiro da Silva: Não tenho dúvida de que, no seu processo inquisitório sobre os empreiteiros para conduzi-los à delação premiada, o Ministério Público da força-tarefa de Curitiba fez todo esforço para vir à baila o meu nome. Perguntavam especificamente sobre a minha eventual participação. O “ouvi dizer” do Danton Avancini (diretor da Camargo Corrêa, autor de delação premiada) foi a consequência desse direcionamento inquisitivo, pois estavam em pauta apenas as licitações da Petrobras.
CC: A quem interessa a sua condenação a 43 anos de reclusão?
OLPS: Certamente, interessa ao sistema internacional preocupado com o fortalecimento de um dos países integrantes dos BRICS. Os brasileiros transnacionais, muito provavelmente, ficaram satisfeitos com o meu processo e a minha saída do cenário. Considero como brasileiros transnacionais aqueles que, embora tenham nascido neste belo país, gostariam de ser cidadãos de outros países, em particular dos Estados Unidos. Não dão importância aos grandes problemas e desafios nacionais, não se preocupam em resolvê-los e, às vezes, em proveito próprio, não se importam em agravá-los.
CC: Como resumiria a importância do seu trabalho para o País?
OLPS: Fui o gerente-coordenador do programa de desenvolvimento tecnológico que assegurou ao Brasil, com esforço nacional, o domínio das tecnologias de todos os aspectos estratégicos da energia nuclear. Coordenei simultaneamente dois grandes projetos denominados pela Marinha, na fase sigilosa, de Ciclone e Remo. São dois desenvolvimentos diferentes: o primeiro implicou a viabilização, com tecnologia nacional, do enriquecimento isotópico de urânio e de todas as demais etapas do ciclo do combustível nuclear.
O segundo consistiu no desenvolvimento e instalação nuclear para submarinos, incluindo a fabricação, no Brasil, de todos os equipamentos e componentes necessários. Para garantir a qualidade da instalação de propulsão nuclear, foi realizado um programa de testes e verificação experimental sem precedentes na história tecnológica brasileira.
Em nenhuma outra nação a mesma pessoa gerenciou simultaneamente esses dois projetos, ambos com sucesso. Nos outros países, as Marinhas trataram apenas do desenvolvimento da propulsão nuclear. Na diretoria da Eletronuclear, gerenciei a definição do mais moderno programa de construção de centrais nucleares e armazenamento de rejeitos.
Esse programa provocou grande impacto no cenário internacional. Uma evidência disso é o fato de eu ter recebido, em um mesmo dia, na sede da Eletronuclear, as visitas do subsecretário de Energia dos Estados Unidos e do ex-primeiro-ministro da Rússia e presidente da empresa estatal de energia atômica Rosatom, Sergey Kiriyenko.
CC: Os valores envolvidos nos pagamentos arrolados pela acusação são atípicos para o tipo de consultoria que o senhor costuma prestar?
OLPS: Se forem considerados atípicos é por terem sido muito mais baratos. O estudo inovador Um Porto de Destino para o Sistema Elétrico Brasileiro interpreta as peculiaridades do sistema elétrico do País difíceis de ser entendidas. Implicou transformar matematicamente as vazões de todos os rios nacionais, levando em conta sua variação temporal, na vazão de um único rio hipotético. O mesmo estudo foi feito transformando o estoque de água existente em todos os reservatórios das hidrelétricas nacionais em um único reservatório hipotético.
Esse único reservatório hipotético constitui o estoque regulador de energia elétrica do sistema elétrico nacional. O estudo analisou o consumo de energia brasileiro, que vem aumentando, e estabeleceu hipóteses sobre o crescimento dessa demanda no futuro.
Examinou a utilização da energia das fontes alternativas e demonstrou a necessidade de construção de termoelétricas nucleares ou que usam carvão combustível para, eventualmente, aumentar o estoque regulador de energia e minimizar a utilização de termoelétricas que utilizam óleo e gás como combustível e que conduzem a altos preços da eletricidade.
O preço cobrado por esse estudo foi de 3 milhões de reais, os mesmos referidos na data de entrega do relatório, em dezembro de 2004. Se compararmos esse preço com os valores cobrados pela equipe de ingleses que modelou o sistema elétrico brasileiro na década de 1990, concluiremos que foi muitíssimo baixo.
Além de que, diferentemente dos ingleses, que transplantaram para o Brasil soluções similares às utilizadas na Inglaterra, onde o sistema é quase 100% térmico e controlado pelo homem, no sistema elétrico brasileiro a maior parte da energia é proveniente de hidrelétricas e fontes renováveis que sofrem as variações que a natureza impõe.
Um Porto de Destino para o Sistema Elétrico Brasileiro preconiza a construção de centrais nucleares para evitar o aumento abusivo dos preços da eletricidade e estabilizar o sistema. Nos trabalhos de consultoria por mim realizados nos 11 anos na Aratec (empresa de consultoria), o valor do homem-dia de consultoria foi sempre dentro da mesma faixa. Os altos valores pagos pela eletricidade pelos brasileiros em 2017 comprovam o estudo por mim realizado em 2004.
CC: O senhor foi chamado para explicar à Justiça os valores faturados por sua empresa de consultoria?
OLPS: Durante o julgamento, em dezembro de 2015, expliquei os valores que foram questionados. Os representantes da força-tarefa do Ministério Público não demonstraram a menor vontade de entender e um deles considerou Um Porto de Destino para o Sistema Elétrico Brasileiro um pequeno estudo sem relevância que o réu usava como desculpa. No julgamento, tive a sensação de que havia uma sanha condenatória com motivações diferentes das acusações apresentadas.
CC: Quais as principais evidências do seu reconhecimento científico nacional e internacional acumuladas na carreira?
OLPS: Os resultados atingidos nos projetos do ciclo do combustível nuclear e na propulsão nuclear constituem evidências indiscutíveis. O general Douglas MacArthur dizia que na guerra não há substituto para a vitória. Sempre achei que na engenharia e no desenvolvimento científico e tecnológico não há substituto para o atingimento das metas e dos resultados.
Recebi a Grã-Cruz do Mérito Nacional, assim como Cesar Lattes, brasileiro indicado para o Prêmio Nobel, e o brigadeiro Casimiro Montenegro Filho, fundador do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e precursor da indústria aeronáutica brasileira. Fui agraciado também com o título de Pesquisador Emérito do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, em São Paulo, concedido a poucos ao longo da história do Ipen.
Recebi ainda a medalha Carneiro Felippe, da Comissão Nacional de Energia Nuclear. Quando me aposentei da Marinha, fui convidado por Pal Schiffer, então um alto dirigente da Agência Internacional de Energia Atômica, em Viena, para trabalhar nessa instituição. Não aceitei porque não seria ético. Eu havia trabalhado por muito tempo no programa nuclear que desenvolvia aspectos estratégicos brasileiros e era considerado, na sua fase inicial, secreto pelo governo do País.
Considerava incongruente trabalhar na AIEA, que inspeciona as atividades nucleares de todos os países. Fui convidado também pelo internacionalmente renomado doutor Hans Blix, diretor-geral da AIEA de 1981 a 1997, para proferir palestra sobre a história da energia nuclear no Brasil desde os seus primórdios. Além disso, recebi convite para representá-lo em um seminário mundial de energia nuclear na Bulgária.
A convite de Bernard Bigot, presidente da Comissão de Energia Nuclear e Energias Alternativas da França, visitei as instalações de Grenoble, onde estavam em curso as principais pesquisas francesas sobre o desenvolvimento de componentes para aproveitamento da energia solar. Com Bigot conseguimos o acordo Brasil-França para o desenvolvimento de componentes e aplicação da energia solar usando o silício de boa qualidade existente no Brasil.
CC: Quais as oportunidades de desenvolvimento científico, como consultor, à sua disposição no Brasil e no exterior ao longo da sua carreira?
OLPS: No segundo semestre de 1994, logo depois do término do tempo de serviço como vice-almirante no serviço ativo da Marinha, após recusar o convite da AIEA, realizei o concurso para pesquisador sênior do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), elaborado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear, e classifiquei-me em primeiro lugar na competição com 16 Ph.D. formados em universidades de outros países.
A CNEN, contrariando a lógica, não me empregou. Como a área nuclear no Brasil, naquele clima de globalização da década de 1990, estava fechada para mim, pelos meus pensamentos nacionalistas conflitantes com o clima “globalizante” do período, resolvi abandoná-la e iniciei as atividades como pequeno empresário.
Durante 11 anos, não me faltaram trabalhos de engenharia e consultoria. Um deles foi o mencionado Um Porto de Destino para o Sistema Elétrico Brasileiro. Nesse período, o trabalho que mais me empolgou foi um encomendado pela Socicam, proprietária dos terminais rodoviários de São Paulo e Rio de Janeiro, entre vários outros. Tratava da concepção de um sistema nacional para transporte de cargas que usasse como célula mater contêineres e explorasse ao máximo a utilização de todos os meios de transporte do País, com ênfase na navegação de cabotagem, subutilizada.Em 2001, a pedido do professor José Goldemberg, representante da sociedade civil no Conselho Nacional de Política Energética, coordenei o trabalho de um grupo de engenheiros e técnicos da Fundação da Universidade de São Paulo, que analisou a viabilidade de retomada da construção da Usina Nuclear Angra 3.
O estudo consumiu nove meses de trabalho, foi muito elogiado pelo professor Goldemberg e considerado de melhor qualidade do que os trabalhos equivalentes realizados pelas empresas Iberdrola, da Espanha, e Electric Power Research Institute (Epri), dos Estados Unidos.
CC: Por que a inovação introduzida pelo senhor no setor nuclear é importante para o País?
OLPS: Sozinho, nada realizei. O destino deu-me a sorte de compor uma miríade de pequenas e muito competentes equipes, cujo trabalho deixou o Brasil em patamar igual ou próximo dos países mais desenvolvidos na área de energia nuclear. Quando o Alto-Comando da Marinha me designou para desenvolver o submarino nuclear brasileiro e o combustível necessário para tal, eu era o único oficial com especialização nuclear.
Todo o esforço inicial foi compor equipes e concentrar o trabalho no desafio principal, que era o enriquecimento isotópico de urânio. Fizemos uma opção arrojada na época, que era a tecnologia adotada para as ultracentrífugas, de minha concepção.
Ainda como aluno de pós-graduação no MIT, comecei a conceber a ultracentrífuga logo depois de assistir a uma aula do emérito professor doutor Manson Benedict, o primeiro diretor do Departamento de Energia Nuclear daquela universidade, que, no final, fez um comentário jocoso: “Os brasileiros acreditaram e compraram da Alemanha esse método. O Brasil gastou mais de 1 bilhão de dólares desenvolvendo e construindo em Resende uma usina piloto que usava a técnica jet nozzle e nunca enriqueceu nem 1 miligrama de urânio”.
Com as ideias que tinha sobre ultracentrífugas, a pequena e maravilhosa equipe que tive a sorte de constituir projetou e construiu três ultracentrífugas no Brasil com tecnologia de vanguarda. O trabalho foi iniciado no segundo semestre de 1979 e, em setembro de 1982, produzimos uma pequena ampola de urânio enriquecido e outra de urânio empobrecido.
Foi o maior evento tecnológico do Hemisfério Sul naquele ano. Com um avançado método de gerenciamento de pesquisas que desenvolvi e denominei Sistema Matricial Dinâmico de Gerenciamento de Pesquisas, o aumento do número de equipes e o auxílio da comunidade científica brasileira, o País atingiu a maturidade na tecnologia nuclear.
Nada como uma equipe dedicada trabalhando em um ambiente saudável para atingir os resultados. Quando fui transferido para a reserva, em 1994, a Coordenação de Projetos Especiais da Marinha tinha um quadro de 600 engenheiros e físicos que, somados às equipes do Ipen, totalizavam uma elite de 980 engenheiros e físicos de alto nível. Isso foi muito importante para o País.
CC: Como a sua descoberta repercutiu na comunidade científica internacional?
OLPS: Em 1987, o governo brasileiro, em cerimônia oficial no Palácio do Planalto, comunicou oficialmente o domínio, pelo País, do ciclo do combustível nuclear. Até aquele momento, as atividades tinham caráter sigiloso. Essa comunicação oficial teve grande repercussão internacional.
Em 8 de abril de 1988, com a presença do então presidente da Argentina Raúl Alfonsín e do presidente José Sarney, foi inaugurado o Centro Experimental de Aramar, em Iperó, no estado de São Paulo – onde funcionava o primeiro módulo da usina de demonstração industrial de enriquecimento de urânio –, e assinado um tratado com a Argentina, que previa a inspeção mútua das instalações nucleares dos dois países.
Esse evento teve a mais ampla repercussão na comunidade científica internacional. O pequeno discurso que proferi na ocasião foi o cume da minha vida profissional e da minha realização pessoal.
CC: Como as realizações e o potencial do Brasil na área nuclear são encarados no exterior?
OLPS: O domínio da tecnologia de enriquecimento de urânio e de todas as etapas do combustível, mesmo tendo optado por não produzir artefatos nucleares, tem um valor estratégico militar muito grande.
As grandes reservas uraníferas brasileiras e o domínio da tecnologia têm um significado econômico ainda não percebido pela maior parte dos que trabalham no setor energético brasileiro. Nas reuniões internacionais sobre energia nuclear e em uma reunião para a qual fui convidado na Energy Research and Development Agency (Erda), nos Estados Unidos, em 2010, tive a clara percepção de que as nossas pródigas reservas de urânio e a capacidade tecnológica de utilizá-lo são consideradas muito importantes internacionalmente.
CC: No momento da sua prisão, a quais atividades de estudo e pesquisa necessárias ao seu trabalho de consultor o senhor vinha se dedicando?
OLPS: O trabalho mais entusiasmante era um sistema de armazenamento de combustível nuclear queimado nos reatores, por mim concebido, que estava sendo coordenado pelo brilhante doutor Sergio de Queiroz Bogado Leite, à frente de um grupo de engenheiros da Eletronuclear.
Acredito firmemente que a adoção desse novo sistema de armazenamento de rejeitos nucleares de alta atividade, um dos maiores desafios tecnológicos da humanidade, colocará o Brasil na vanguarda mundial dos países que utilizam a energia nuclear. Esse sistema seria patenteado em nome da Eletronuclear.
A segunda atividade de estudo e pesquisa que eu desenvolvia era conduzida sob a coordenação do doutor Leonam Guimarães e tratava dos estudos de localização das novas centrais nucleares que o Brasil certamente necessitará construir. Esse estudo especificava as características das usinas nucleares e os requisitos que deveriam preencher para evitar acidentes nucleares.
Foi concebido para permitir a execução do programa por grupos privados, mas assegurando baixo preço da eletricidade produzida e o controle estatal brasileiro. A terceira atividade de pesquisa era coordenada por mim utilizando as minhas folgas, férias e fins de semana e tratava do término do desenvolvimento da família de hidroturbogeradores integrados para muito baixas quedas-d’água, da qual detenho a patente.
CC: Que balanço faz do seu tempo de atividade na Marinha?
OLPS: A maior parte do tempo foi muito empolgante. Fui promovido a segundo-tenente do Corpo da Armada em dezembro de 1960 e até 1963 operei embarcado no contratorpedeiro Mariz e Barros. Em 1963, sem planejamento prévio, tive sucesso no concurso para cursar Engenharia Naval na Escola Politécnica de São Paulo.
De fevereiro de 1966 até maio de 1975, trabalhei como oficial engenheiro no Arsenal da Marinha, período interrompido em 1969 para estagiar por um ano na Gibb & Cox, em Nova York, na época a maior empresa projetista de navios de guerra no mundo, que na década de 1930 criara os destróieres classe Cassin, da qual derivou o contratorpedeiro Mariz e Barros.
Fiz estágios de quatro meses no Philadelphia Naval Shipyard e de três meses no estaleiro Vosper Thornycroft, em Southampton, na Inglaterra. De 1966 a 1975, quis o destino que eu fosse escalado para gerenciar os maiores desafios que o Arsenal da Marinha recebeu nesse período, considerado a sua época áurea, onde o nível de atividade foi similar àquele vivido de 1935 a 1945, que englobou a Segunda Guerra Mundial.
Ainda como capitão de corveta, fui chefe da Divisão de Oficinas e responsável pela manutenção dos navios da esquadra por dois anos, época em que todos eles estiveram prontos para operar. Em março de 1973, fui designado chefe da Divisão de Construção Naval para construir os navios de patrulha fluvial que até hoje operam na Amazônia, além de uma dúzia de embarcações de desembarque para fuzileiros navais e seis embarcações de desembarque de carga geral para fuzileiros.
Gerenciei ainda a implantação, no Arsenal da Marinha, do programa de construção das fragatas Independência e União, que continuam a operar. Fui o oficial que gerenciou o maior número de embarcações e navios construídos naquele Arsenal no Pós-Guerra. Aos 35 anos, como capitão de corveta, tive a oportunidade de cursar Engenharia Nuclear no Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Em dois anos e 11 meses no MIT, completei 226 créditos estudantis, cerca de 50% a mais do que os alunos que cursam o Ph.D. completam. Ao regressar do MIT, em fevereiro de 1978, o diretor-geral do Material da Marinha determinou que eu fizesse um estudo e um relatório sobre a possibilidade de desenvolver submarinos com propulsão nuclear no Brasil.
O relatório foi entregue no fim de maio de 1978. A Marinha resolveu fazer um estudo maior tendo como referência o meu relatório. Para minha surpresa e perplexidade, em outubro de 1988 o almirantado (equivalente ao Alto-Comando no Exército e na Aeronáutica) decidiu iniciar o programa de desenvolvimento da propulsão nuclear para submarinos.
Recebi duas folhas que, na realidade, eram o resumo do meu relatório e se constituíram na minha missão nos anos em que permaneci no serviço ativo na Marinha, até agosto de 1994. Para evitar que a natural burocracia administrativa naval impedisse de desenvolver o programa, o almirantado me licenciou da Marinha e alocou na Divisão de Estudos Avançados do Centro Técnico Aeroespacial, em São José dos Campos.
O projeto da Marinha era secreto e eu tinha ordem expressa de não conversar com qualquer oficial da Marinha, só poderia responder às perguntas que os almirantes quatro-estrelas do Alto-Comando fizessem, somente se eles perguntassem e àquilo que perguntassem.
O almirante Maximiano Eduardo da Silva Fonseca assumiu o cargo de ministro da Marinha em 1979 e eu tinha a determinação para, em companhia do almirante Mário Cesar Flores, autor do estudo do Estado-Maior, uma vez por mês relatar diretamente ao ministro o andamento do programa. Iniciamos a pesquisa e o desenvolvimento com zero recursos financeiros e zero equipe.
Congregar uma das maiores equipes da história tecnológica brasileira, conseguir recursos em outros órgãos do governo federal além da Marinha, obter o apoio dos governos de São Paulo e da comunidade científica nacional e gerenciar o desenvolvimento tecnológico foi muita emoção, maior do que qualquer outro oficial engenheiro terá oportunidade de ter e que dificilmente outros tiveram nas outras Marinhas do mundo, pois tive de trabalhar na viabilização do combustível nuclear e no desenvolvimento da propulsão em um país com indústria ainda em desenvolvimento. Resumindo, a minha vida na Marinha foi fascinante e desafiadora, pois estive sempre atuando na linha de frente da tecnologia.
CC: Alguns daqueles que trabalharam com o senhor o descrevem como um idealista. Qual conduta sua provavelmente alimentou essa conceituação por parte de ex-colegas?
OLPS: Fui criado ouvindo meu pai, um médico do interior que me ensinou que vivemos em um lindo e formidável país, com um mix racial que, com ensino e aporte tecnológico, poderá muito contribuir para um mundo melhor. Meu procedimento e minha conduta foram sempre acreditar que não sou dono da verdade. Acredito que podemos aprender com todos, todos os dias. Uma boa parte dos companheiros era tão ou mais idealista do que eu.
CC: Como o senhor avalia a sua situação psicológica? Qual a sua rotina diária?
OLPS: A sentença foi dada em tempo recorde, depois da apresentação da defesa por meu advogado, e parece que já estava quase pronta. Ao conhecer o seu teor, que no meu modo de ver foi injusto, e, se as acusações fossem verdadeiras, ainda assim a sentença seria desproporcional tanto para mim quanto para minha filha, vivi dois dias em que tentei, em revolta, renunciar à vida. (Nota da redação: Ana Cristina da Silva Toniolo foi condenada a 14 anos e 10 meses por ser sócia do pai na consultoria que emitiu a nota fiscal do estudo encomendado pela Andrade Gutierrez.)
Depois, felizmente, me aprumei e passei a querer intensamente viver, pois entendi que o suicídio por revolta pela pena infligida à minha filha poderia ser interpretado como confissão de culpa. Na parte da manhã, antes da cirurgia a que tive de me submeter no dia 21 de setembro, fazia exercícios no cárcere e, nos 60 minutos previstos para banho de sol, andava de 5 a 6 quilômetros.
Decidi escrever um livro que relata a história da energia nuclear no século passado, em particular na América Latina. Descrevo a saga que foi o programa de desenvolvimento tecnológico no Brasil, em especial o esforço da Marinha e seus obstáculos políticos. O livro foi manuscrito, pois não tenho acesso a computador e, quando puder, vou digitar e fazer pequenas correções. Tomei gosto por escrever e, no futuro, pretendo produzir outros livros. Ler e ouvir notícias completam o meu tempo.
CC: O que o senhor espera da Justiça brasileira?
OLPS: Espero que deixe de ser direcionada por um pequeno grupo – onde existe a possibilidade de participarem alguns brasileiros transnacionais – e realmente procure aplicar a Justiça. Causou-me muita tristeza ver atuando como auxiliar de acusação, pela Eletrobras, um advogado indicado pela empresa estrangeira Hogan & Lovells, muito ativo. Também muito me entristeceu o juiz repetir várias vezes na sentença o eventual prejuízo da Eletrobras por possível desvalorização das ações na Bolsa de Nova York.
Como o preço de construção de Angra 3, por megawatt instalado, era menor do que construções equivalentes nos Estados Unidos, França e Finlândia, só perdendo para o preço praticado na China, acredito que um dia isso será levado em consideração pela Justiça brasileira. A grande melhora de desempenho da Eletronuclear, transformando-a em uma das melhores centrais nucleares do mundo, certamente contribuiu positivamente para o preço das ações da Eletrobras, mas isso também não foi levado em consideração na sentença.
FONTE:  Carta Capital

URGENTE REVELADA INTERVENÇÃO!

Marinha da Rússia 'recupera sua presença' em todos os oceanos

O comandante-chefe da Marinha da Rússia, Vladimir Korolev, enumera a força naval da Rússia em todos os oceanos.
Segundo declarou Vladimir Korolev ao jornal Krasnaya Zvezda, a Marinha russa recuperou sua presença nos oceanos mundiais.
A Marinha russa recuperou sua presença nos oceanos mundiais, como deve fazer a frota de uma potência naval na realidade. Há mais de 100 navios de todas as quatro frotas em zonas longínquas e do mar", destacou.
Ao mesmo tempo, o militar salientou que o aumento da presença militar naval é destinado unicamente para "defender os interesses do país e garantir a estabilidade em meio a novas ameaças no mar".
Sendo assim, a Marinha da Rússia está desempenhando a tarefa dada pelo ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, de "tornar essa presença ainda mais efetiva".
Além disso, o comandante-chefe da Marinha russa sublinhou que, além da expansão da presença militar nos oceanos mundiais, foram criados vários órgãos militares operativos, por exemplo, no Ártico e no mar Mediterrâneo para continuidade do aperfeiçoamento da Marinha da Rússia.

O submarino nuclear estratégico Knyaz Vladimir, do projeto 955A Borei, será comissionado em novembro na Marinha russa, afirmou o comandante-chefe da Marinha, Vladimir Korolev.

O submarino nuclear estratégico Knyaz Vladimir, do projeto 955A Borei, será comissionado em novembro na Marinha russa, afirmou o comandante-chefe da Marinha, Vladimir Korolev.

Os submarinos nucleares da classe Borei devem se tornar os elementos centrais do componente naval da força de dissuasão nuclear. Com um comprimento igual a quase dois campos de futebol, os novos submarinos podem carregar dezasseis mísseis Bulava, cada um equipado com até dez ogivas nucleares autônomas.
"O submarino estratégico nuclear será em breve retirado da rampa da empresa Sevmash na cidade de Severodvinsk", disse o comandante-chefe em entrevista ao jornal Krasnaya Zvezda na segunda-feira (30).
Segundo ele, em 2017, os navios de guerra russos passaram no mar 17.100 dias. Até o ano de 2020, a Marinha russa planeja ter ao serviço oito submarinos estratégicos da classe Borei.