A Argentina protestou contra os treinamentos militares programados entre 30 de outubro e 3 de novembro, onde estão participando 1.500 efetivos do governo britânico no arquipélago.
A Sputnik Mundo falou com o veterano e integrante do Centro de ex-Combatentes das Ilhas Malvinas (CECIM), Ernesto Alonso, sobre manobras militares do Reino Unido no arquipélago do Atlântico Sul.
É o mesmo tipo de exercícios que vem realizando a Grã-Bretanha na área. Faz parte da militarização do Atlântico Sul utilizada pelo império para apropriação dos recursos naturais e minerais e acesso ao continente antártico. Malvinas são um enclave estratégico ideal para tudo isso. O que está acontecendo é algo que afeta toda a região", disse Alonso.
Em setembro de 2016, Argentina e Grã-Bretanha assinaram acordo Foradori-Duncan. Através de sua assinatura, o governo argentino fez concessões comerciais para Londres, retomou os voos para o continente do arquipélago e resolveu explorar em conjunto tanto a pesca como hidrocarbonetos na zona marítima do conflito. Este acordo recebeu duras críticas da oposição e dos ex-combatentes das Malvinas.
O governo argentino protestou formalmente divido aos exercícios militares britânicos nas ilhas Malvinas. A reclamação foi apresentada em 26 de outubro pelo vice-chanceler Daniel Raimondi em uma nota entregue à embaixada do Reino Unido.
Lá se reafirma que a Grã-Bretanha "desconhece resoluções das Nações Unidas e de outras organizações internacionais, que apelam para ambos os países a retomar as negociações a fim de encontrar uma solução pacífica e definitiva para a disputa de soberania". Por outro lado, avisa que deixará o secretário-geral das Nações Unidas e a secretário-geral da Organização Marítima Internacional a par da situação.
"Além da reivindicação pontual, a posição do governo argentino gerou um retrocesso enorme. O oficialismo afirma que as nossas Forças Armadas realizem exercícios militares conjuntos com as forças de ocupação. Isso foi incluído no acordo [Foradori-Duncan] que representa um afastamento da doutrina histórica com que a Argentina vinha trabalhando neste tema. Evidencia-se, deste modo, uma posição para beneficiar os interesses britânicos", disse o veterano.
Alonso explicou que as ilhas Malvinas, com uma área de cerca de 12.000 quilômetros quadrados, são um "campo de treinamento ideal" para as últimas tecnologias do armamento mundial.
"Como se trata de um lugar com população pequena [cerca de 3.000 habitantes] os treinamentos das Forças Armadas britânicas não interferem na vida de seus habitantes, permitindo, assim, o teste de armamento convencional e de dispositivos sofisticados de espionagem, bem como o desenvolvimento científico e tecnológico com aplicação militar projetado até a Antártida, como os sistemas HAARP em Ganso Verde, utilizados para estudar a mudança climática, ou induzi-lo", concluiu.
O entrevistado fez referência ao sistema High Frequency Active Auroral Research Program (HAARP, na sigla em inglês). Trata-se de um programa financiado pela Força Aérea e a Marinha dos Estados Unidos, cujo objetivo é estudar as propriedades da ionosfera e potencializar os avanços tecnológicos que permitam melhorar a sua capacidade de favorecer a comunicação por rádio e os sistemas de vigilância. Este projeto vem despertando críticas quanto à camuflagem de um estudo científico para propósitos militaristas.
A Argentina reivindica a soberania das ilhas Malvinas desde 1833, ano em que o Reino Unido passou a ocupar o arquipélago. Desde então os dois países mantêm uma disputa sobre a soberania da região, o que fez com que, em abril de 1982, a ditadura argentina (1976-1983) tentasse recuperá-las por meio de uma guerra que terminou em 14 de junho do ano em questão com derrota argentina. Reino Unido e Argentina retomaram suas relações diplomáticas em fevereiro de 1990, durante a gestão do ex-presidente Carlos Menem (1989-1999).
Nenhum comentário:
Postar um comentário