Foi descoberto mais um, o quinto, satélite do longínquo Plutão. É mais um motivo para os cientistas se perguntarem porque tem tantos satélites um corpo celeste de tamanho inferior à nossa Lua. Será mais um facto a favor da hipótese de um antigo cataclismo cósmico?
O satélite, com o nome provisório de P5, foi descoberto, tal como o seu antecessor P4 há um ano, numa foto feita com grande exposição pelo telescópio orbital Hubble . Transversalmente ele mede de 10 a 24 km. Os cientistas que o descobriram comparam a família de satélites de Plutão com uma matrioshka, a famosa boneca russa. As suas órbitas encaixam umas nas outras, explica Vladimir Surdin, astrofísico do Instituto Astronómico Shternberg da Universidade Estatal Lomonossov de Moscou.
“O Plutão é perfeitatamente original. Foi descoberto em 1930 e em 1978 foi descoberto o seu satélite Charon com uma massa enorme. A partir daí nós consideramo-lo um planeta duplo. Sabemos que um “servo de dois amos” ou um “agente duplo”, um espião que trabalhe para 2 países, não tem uma vida longa. Na mesma lógica, qualquer satélite que gire à volta de um planeta duplo também não pode existir por muito tempo, por isso o sistema de satélites de Plutão terá, provavelmente, aparecido há pouco tempo, numa escala astronómica. O mais provável é tratar-se de frangmentos de dois corpos que terão colidido junto a Plutão num tempo previsível, talvez há centenas de milhões de anos, o que não é muito.”
Também existe uma versão de colisão semelhante que pelo menos explica o aparecimento de Charon: o próprio Plutão podia ter colidido com um corpo da mesma ordem de grandeza. Depois parte dos fragmentos terão formado o Charon e a outra parte terá sido atraída pelos restos de Plutão, tendo mais tarde ambos os corpos obtido a forma esférica. Depois de cataclismos desse tipo poderia ter aparecido um sistema de aneis, se bem que à volta de Plutão ainda não os descobriram. Na opinião do norte-americano Andrew Steffl, podem ser encontrados aneis pálidos para além da órbita do quinto satélite de Plutão, nunca a menos de 42 mil km do centro de todo o sistema. Numa região mais próxima e instável eles seriam inevitavelmente destruidos pela gravidade alternada do planeta duplo.
Também há astrónomos partidários da versão da passagem junto ao Sol de um sistema planetário de outra estrela. Um dos seus componentes teria colidido com Plutão o que explicaria a inclinação estranha da sua órbita e a quantidade de satélites. Vladimir Surdin discorda.
“Isso é impossível. O mais provável é o Sistema Solar nunca ter sofrido a influência de outras estrelas. Se isso tivesse acontecido, nós não teríamos orbitas tão estáveis. A Terra percorre uma órbita quase circular. As colisões no espaço são um fenómeno comum, até hoje foram descobertos mais de meio milhão de pequenos corpos, chamados asteróides, no interior do Sistema Solar. Quando há tantos corpos a circular próximos uns dos outros as colisões acontecem.”
O recém descoberto P5 já foi incluido na lista dos objetos a estudar pela estação Novos Horizontes (New Horizons) da NASA. Em fevereiro de 2015 a estação estará suficientemente próxima de Plutão para iniciar as observações. Em julho do mesmo ano ela passará a 10 mil km de Plutão sem reduzir a velocidade. O período mais favorável para as fotos mais nítidas irá durar apenas dez minutos, depois do que a Novos Horizontes entrará em sequência nas zonas de sombra solar de Plutão e de Charon. Se Charon possuir uma atmosfera, como o seu consorte, isso será detetado pelos aparelhos. Segundo Vladimir Surdin, a missão do aparelho pode soerguer o véu que cobre o mistério da origem do planeta e do seu sistema.
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