Mais de 120 políticos e líderes mundiais estão citados no Paradise Papers, iniciativa de investigação coordenada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) e que mostra os interesses e atividades junto a empresas offshores, sediadas em paraísos fiscais – como já revelado anteriormente em outra apuração, o Panamá Papers.
Os ministros Henrique Meirelles (Fazenda) e Blairo Maggi (Agricultura), ambos integrantes do governo do presidente brasileiro Michel Temer (PMDB), também constam na investigação, que contou com mais de 380 jornalistas de todo o mundo, seguindo os passos de cidadãos de ao menos 67 países.
Entre as figuras conhecidas e que são mencionadas essão a rainha britânica Elizabeth II, membros do governo do presidente dos EUA, Donald Trump e o "genro" do presidente russo Vladimir Putin, e ainda o chefe de arrecadação da campanha do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau.
Os arquivos denominados Paradise Papers revelam "interesses e atividades offshore de mais de 120 políticos e líderes mundiais, incluindo a rainha Elizabeth II, cuja propriedade privada indiretamente investiu em uma empresa de empréstimo de aluguel acusada de táticas predatórias".
Treze aliados, principais doadores e membros do gabinete de Trump aparecem nos documentos, de acordo com o ICIJ. Entre estes estão os “interesses do secretário de Comércio Wilbur Ross em uma empresa de transporte marítimo que lucra milhões de uma empresa de energia, cujos proprietários incluem o genro russo Vladimir Putin e um magnata russo sancionado”, disse o ICIJ, prometendo mais histórias relacionadas nos próximos dias.
Os arquivos também incluem detalhes de planejamento tributário por quase 100 corporações multinacionais, incluindo Apple, Nike e Uber – que escapam de impostos por meio de manobras contábeis cada vez mais imaginativas.
Entre os brasileiros citados pela investigação, o ministro Henrique Meirelles criou uma fundação nas Bermudas para gerir sua herança, a Sabedoria Foundation – é o chamado trust. Criado em 2002, este fundo foi aberto com US$ 10 mil e receberá bens apenas após a morte de Meirelles, informou o ministro ao site Poder360, representante brasileiro na apuração do ICIJ. O dinheiro foi declarado à Receita Federal, mas a legislação brasileira é bem pouco clara quanto à essa modalidade, informa a mesma publicação.
Já o ministro Blairo Maggi é beneficiário de uma empresa nas Ilhas Cayman, em uma sociedade firmada em 2010 entre uma de suas empresas e a gigante holandesa Louis Dreyfus, especializada no processamento de grãos. Por meio da sua assessoria, Maggi declarou não receber dinheiro advindo da offshore, afirmando se tratar apenas de um beneficiário indireto. Tributaristas consultados pelo Poder360 disseram que, a princípio, a situação descrita pelo ministro é tida como regular perante as autoridades brasileiras.
Origem dos dados
Os dados vêm de vazamentos ligados à empresa de advocacia offshore Appleby, baseada em Bermuda ,que admitiu nas últimas semanas que tinha sido alvo de uma violação de dados. O ICIJ disse que 95 parceiros de mídia estavam envolvidos na peneiração de 13,4 milhões de arquivos vazados, de uma combinação de arquivos vazados de escritórios de advocacia offshore e registros de empresas em alguns dos países mais secretos do mundo.
Os arquivos foram obtidos pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung. A Appleby disse, em uma declaração em 27 de outubro, que seus dados foram roubados em um ataque cibernético no ano passado. A firma também disse que recebeu consultas do ICIJ, que surgiram de documentos que os jornalistas alegavam ter visto e estariam envolvidos em alegações contra a Appleby e os negócios conduzidos por alguns de seus clientes.
"A Appleby investigou minuciosamente e vigorosamente as alegações e estamos convencidos de que não há provas de qualquer irregularidade, tanto por parte de nós mesmos quanto de nossos clientes. Nós refutamos quaisquer alegações que possam sugerir o contrário e gostaríamos de cooperar plenamente com qualquer investigação legítima e autorizada das alegações pelas autoridades competentes e relevantes", comentou a firma.
A empresa acrescentou que ficou desapontada com o fato de a mídia ter usado material obtido ilegalmente, o que poderia resultar na exposição de partes inocentes em violação de proteção de dados.
"Tendo investigado as alegações do ICIJ, acreditamos que elas são infundadas e com base na falta de compreensão das estruturas legítimas e legais usadas no setor offshore", completou.
O lançamento ocorreu quase 18 meses depois que as revelações dos Panamá Papers, apuração que abalou o mundo com dados de 11,5 milhões de documentos do escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca. O primeiro-ministro islandês Sigmundur Gunnlaugsson foi forçado a renunciar após revelações relacionadas a contas offshore. O ICIJ diz que pelo menos 150 investigações, auditorias ou investigações foram anunciadas em 79 países ao redor do mundo na parte de trás das revelações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário