O general Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, comandante-geral do Exército, é um dos responsáveis por assegurar a defesa do país. Ao mesmo tempo, é um homem que trava uma batalha pessoal com a própria saúde.
Em março deste ano, ele revelou, em um vídeo institucional divulgado no YouTube, estar enfrentando uma doença neuromotora degenerativa que afeta a musculatura. Cinco meses depois, com a mobilidade bastante restrita e a respiração mais ofegante, ele tem participado de eventos usando uma cadeira de rodas.
Em entrevista à BBC Brasil, por telefone, o próprio comandante classificou a situação dele como "inaudita". Mas garante que a saúde mais fragilizada, que contrasta com a imagem de um soldado pronto para a guerra, não é, para ele, motivo para ele deixar o posto. O trabalho, diz ele, o ajuda a enfrentar a doença. Nos bastidores da caserna, porém, já se especula quem será seu sucessor.
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Questionado sobre os pedidos de intervenção militar que surgiram em certos setores nos últimos anos, o general Villas Bôas foi categórico em dizer que a própria sociedade brasileira é capaz de encontrar uma solução para a crise sem que isso ocorra. "O Brasil tem um sistema que dispensa a sociedade de ser tutelada", declarou.
O comandante falou também sobre o emprego - e limitações - das Forças Armadas para conter a escalada da violência urbana. Para ele, que mais de uma vez já criticou o uso delas em ações para garantir a manutenção da lei e da ordem em cidades, o Exército nas ruas pode melhorar a sensação de segurança apenas de forma passageira.
E chamou ainda de "alarmistas" os críticos do exercício militar que o Exército fez na Amazônia com a participação de representantes de 20 países.
'Comandar o Exército me fortalece'
Villas Bôas, de 66 anos, completou 50 anos de Exército.
Aos 16, entrou na Escola de Cadetes em Campinas, para em seguida ingressar na Academia Militar das Agulhas Negras. Aspirante da turma de 1973, acumulou na carreira importantes postos de comando, como o da Amazônia, e funções mais políticas como a de adido-adjunto na Embaixada do Brasil na China e chefe da assessoria parlamentar do Exército.
Foi promovido comandante em julho de 2011. Desde então, passou usar as redes sociais para se comunicar com dois públicos diferentes: os militares e entusiastas das Forças e também o público em geral. Ele próprio é ativo no Twitter, mas admite que não posta diretamente. "Mas sempre defino os temas e o espírito da mensagem."
Villas Bôas se diz frustrado por não poder percorrer as unidades do Exército, mas garante que o exercício da função o ajuda a enfrentar a doença.
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"Me fortalece e me anima", diz, complementando, no entanto, "que não quer dar um caráter heroico ao que está acontecendo".
O general afirma não ver razão para ir para a reserva e que desde que assumiu publicamente a doença tem recebido "muitas manifestações de solidariedade e apoio".
'Linha-dura' na fila da sucessão do Exército
Após o comandante assumir a doença publicamente, as especulações sobre sua sucessão ganharam corpo.
Há quem acredite que ele esteja resistindo no cargo e enfrentando pressões internas para evitar que nomes mais "linha-dura" e ícones dos "intervencionistas" - como o general Antonio Hamilton Mourão, atual secretário de Economia e Finanças do Exército - assumam o comando da Força.
Foi Mourão quem, ao ser questionado sobre intervenção militar em uma palestra promovida pela maçonaria em Brasília em setembro, falou sobre impor uma ação caso a Justiça não aja contra a corrupção.
Mourão, ao lado dos oficiais Juarez Aparecido de Paula Cunha, chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército, e Gerson Menandro, da representação brasileira na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), são os mais bem colocados no chamado "Almanaque do Exército".
O termo refere-se a um ranking de posicionamento dos militares dentro da linha hierárquica, com base na colocação que eles obtêm no decorrer de sua formação e carreira. A posição dentro do almanaque, atualizado mais de uma vez por ano a cada ciclo de promoções, define a hierarquia mesmo entre militares no mesmo posto.
Aspirantes da turma de 1975, os três generais cotados para o lugar do atual comandante vão para a reserva em março do próximo ano.
Segundo Villas Bôas, o Exército tem "como praxe" nomear alguém ainda da ativa.
"Realmente não é uma praxe a escolha de oficiais da reserva para voltar para a Força e assumir o comando. A praxe tem sido sempre no sentido de escolher alguém ainda na ativa porque isso realmente fortalece a coesão", explica.
Mas ele nega estar resistindo no cargo para barrar os colegas.
"Eu diria que especulações nesse sentido estão absolutamente desprovidas de fundamentação. Esses oficiais a que você se referiu, assim como os outros oficiais do Alto Comando do Exército, estão plenamente habilitados a assumir o comando e cumprir um papel tão bom ou melhor que o meu", diz.
O comandante ressalta a proximidade com esses generais. "Eles estão entre os que mais trabalham pela manutenção da coesão e da institucionalidade do Exército."
"Essa preocupação, sinceramente, não está presente", completa.
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