A ameaça direta da Coreia do Norte em relação à ilha de Guam controlada por Washington aumentou as tensões entre os dois países e deixou de forma concreta que a possibilidade, antes hipotética, de um ataque de mísseis contra o solo americano se tornasse real. Nesta situação, poderão os EUA interceptar os mísseis norte-coreanos?
A revista The National Interest perguntou a vários especialistas em controle de armas se a defesa antimísseis estadunidense seria capaz de contrariar a ameaça norte-coreana.
Proteção do território continental
A intercepção de um projétil no espaço aéreo norte-americano é "possível, mas muito pouco provável", comentou Joseph Cirincione, presidente da fundação antinuclear Ploughshares Fund, se referindo ao status vigente do programa Ground-Based Midcourse Defense (Defesa Terrestre de Médio Alcance, ou GMD, na sua sigla em inglês).
Dos 18 ensaios da GMD, destinada a interceptar mísseis balísticos inimigos no espaço, somente 10 resultaram bem-sucedidos, dado que apenas um deles, que se deu em 30 de maio de 2017, simulou um alvo similar a um verdadeiro míssil intercontinental.
Naquela época, a prova que teve sucesso enfrentou com onda de críticas por ter ocorrido em condições "ideais", em comparação com um ataque nuclear "real" e por ter ignorado as possíveis complicações, tais como os lançamentos múltiplos, ogivas falsas e um ataque noturno.
"A política atual de uso da GMD é lançar 4 ou 5 interceptores contra um míssil e cruzar os dedos" esperando que as condições de voo coincidam com as dos ensaios bem-sucedidos, comentou o especialista em assuntos de desarmamento, Kingston Reif.
Proteção de Guam
Se Pyongyang realizar seu plano de "mostrar músculos" perante os EUA e lançar 4 mísseis de uma vez contra a ilha de Guam, isso já seria uma tarefa para os sistemas antimísseis THAAD tentarem derrubar o míssil na fase inicial de voo.
O THAAD é provavelmente capaz de tentar efetuar uma intercepção de um míssil [intercontinental], embora isso esteja perto dos limites das suas capacidades técnicas", disse à revista Jeffrey Lewis, diretor do programa para a não proliferação do Instituto Middlebury.
Colocar uns dois navios com o sistema antimísseis Aegis na zona "não seria uma ideia ruim, já que quatro mísseis de uma vez podem causar muito estresse", gracejou.
E uma 'chuva de mísseis'?
O sistema THAAD, embora tenha um registro de ensaios com sucesso, "nunca foi testado contra mais de dois alvos de uma vez", enquanto a Coreia do Norte possui "centenas de mísseis" e, no caso de um conflito de grande escala, muitos projéteis voarão em simultâneo, destaca Cirincione.
"E como se poderá adivinhar qual deles porta uma ogiva nuclear? E caso ataquem os radares de alerta precoce antes de lançá-los?", pergunta o especialista, sublinhando que a possibilidade de se defender contra "um ataque de mísseis de um inimigo determinado" é duvidosa.
Deste modo, os entrevistados coincidiram em que o simples aumento do orçamento para ampliar o programa de defesa GMD, recém-anunciado pelo presidente Donald Trump, não vai solucionar o problema: o enfoque deve ser feito nos sensores e ensaios de interceptores em condições mais realistas antes de prosseguir com o financiamento, concluiu a mídia.
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