domingo, 10 de fevereiro de 2013

Base brasileira que explodiu na Antártida é agora canteiro de obras

Por Daniela Chiaretti e Silvia Costanti (fotos) | Valor


ESTAÇÃO COMANDANTE FERRAZ, ANTÁRTIDA - A temperatura é de 2 graus às 7 horas da manhã desta sexta-feira na Estação Comandante Ferraz, a base brasileira na Antártida. O alto-falante que acorda os ocupantes do navio Ary Rangel avisa que o tempo estimado de vida para quem cair na água, na baía do Almirantado, é de 90 segundos.

Há contêineres na margem que servem de depósitos de equipamentos e botes. À esquerda, um laboratório de química. O que há de novo, para quem conheceu Ferraz antes da madrugada de 25 de fevereiro, é uma fileira de barracas coloridas. São tendas de emergência para o grupo de militares que trabalha na retirada das 800 toneladas de escombros que sobraram depois do incêndio que destruiu a estação. Há 200 pessoas envolvidas na operação de retirada das sucatas e montagem de uma estação provisória. À época do acidente, o ministro da Defesa, Celso Amorim, afirmou que seriam necessários R$ 100 milhões para a reconstrução completa da unidade de pesquisa brasileira.
A Estação Comandante Ferraz é agora um canteiro de obras. Quando as equipes chegaram, depois do inverno antártico, em novembro, a neve cobria tudo. Eram 80 pessoas, a maioria militares da Marinha. Só para tirar a neve acumulada, levaram dez dias. Hoje ainda há sucata sendo cortada e carregada por tratores e tesouras mecânicas. Mais de 600 toneladas já foram embarcadas no navio alemão Germania, que está na Baía do Almirantado, localizada na região.
No alto do morro há sete cruzes. Quatro são de ingleses mortos quando Ferraz era uma base baleeira inglesa. Uma delas lembra um sargento que foi vítima de um enfarte fulminante há alguns anos. Agora há mais duas, homenagem aos dois tenentes da Marinha que morreram na tentativa de combater o fogo da explosão que destruiu a base há um ano.
“Foi muito duro”, diz Marcelo Seabra, capitão de Mar e Guerra e comandante do Ary Rangel, comentando a morte dos dois militares e dizendo que nunca conseguiu subir até onde estão as cruzes. Ele estava em Punta Arenas, consertando o motor do navio, ao receber o telefonema de Brasília avisando que havia um incêndio na estação. Coordenou a logística para receber pesquisadores e militares que estavam lá e foram socorridos por chilenos, argentinos, poloneses e navios que chegavam por lá. Na noite do incêndio havia 60 pessoas na estação.
Agora há 43 contêineres na praia. Foram desembarcados em dois dias carregados pelo navio argentino San Blas. O único custo, para a Marinha brasileira, é o combustível. Oito estão já montados sobre o heliponto. São os Módulos Antárticos Emergenciais (MAE), que abrigarão os militares envolvidos na reconstrução provisória das instalações e na futura construção da nova base brasileira. Há 110 pessoas em Ferraz que vivem um momento híbrido — muitos desmontam e carregam escombros, muitos trabalham na adequada colocação de contêineres brancos, os MAE.
Os MAE são da empresa canadense Weather Heaven e foram montados no Canadá e na África do Sul. Há 14 funcionários da empresa canadense ajudando na montagem. “Os módulos tem, no mínimo, cinco anos de vida útil”, diz o capitão de Mar e Guerra, Ricardo Soares Ferreira, envolvido na operação. “Montaremos uma mini-estação antártica”, diz a engenheira naval Carla Feijó da Costa, capitã de corveta e também na montagem.
Quatro tratores, duas tesouras mecânicas e uma carregadeira trabalham incessantemente aproveitando o verão antártico e os momentos de bom tempo. "Tivemos sorte de conseguir colocar todos os módulos em terra em uma semana", comemora Paulo Cesar Galdino de Souza, o chefe da estação. No fim de março ele espera ter a estação provisória montada e pronta antes do inverno.
As imagens do desastre ainda são fortes na Baía do Almirantado. “Quando cheguei, em março, era cinza puro, ferro retorcido. Ter 28 anos de estação e perder tudo. É muito triste.”
VALOR,,SNB

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