No início de janeiro deste ano, a presidente argentina Cristina Fernanda de Kirchner dirigiu-se ao primeiro ministro da Grã-Bretanha exigindo a devolução das ilhas, alegando a resolução da ONU de meio século atrás, que exortava a "pôr fim ao colonialismo em todas as suas formas e manifestações".
Buenos Aires declarou que dentro de 20 anos as ilhas voltarão sob sua jurisdição. Londres respondeu dizendo que ou as ilhas permanecerão britânicas ou conquistarão a independência: tudo depende do desejo dos habitantes das ilhas, mas não dos argentinos.
Muitos especialistas supõem esta questão levantada por Kirchner é motivada não por altas considerações ideológicas, mas pelo instinto de auto-preservação política. Explica o redator-chefe da revista Rússia na Política Global, Fiodor Lukianov:
"A Argentina é um país de deceção. Nos anos 30, ela ultrapassava em desenvolvimento econômico a maior parte dos países europeus. Mas, desde que a Argentina se entusiasmou com líderes carismáticos, a partir do general Peron, ela se transformou gradualmente de líder regional em estado com consciência muito ferida. Antes de mais nada, perdeu totalmente a tradicional competição com o Brasil pela liderança na América do Sul. O Brasil agora é o líder reconhecido do continente, "astro em ascensão" da ordem mundial. E ele conduz uma política independente, mas não de confronto. A Argentina tenta entrar no proscênio através de política muito mais de esquerda do que o Brasil".
A oposição argentina considera que a política interna de Cristina Kirchner leva o país ao isolamento mundial. A Argentina virou as costas aos EUA e à União Europeia e escolheu aliados estratégicos como a Venezuela e o Irã. O especialista do Instituto da América Latina da Academia de Ciências da Rússia, Piotr Yakovlev, comenta a situação:
"A Argentina dá ênfase ao aumento do papel do Estado na economia e vida social. Trata-se de apoio material ativo às camadas pobres da população, aumento dos salários, antes de mais nada dos pobres. E para tudo isto o governo necessita de recursos financeiros muito significativos, que a atual economia argentina não pode assegurar. Por isso o governo tem de buscar fontes complementares de financiamento, como seja a nacionalização de companhias estrangeiras.
Também não são simples as relações da Argentina com o FMI. Em lugar dos países ocidentais, os Estados em desenvolvimento tornam-se os principais parceiros da Argentina. Em essência, as autoridades argentinas agora tentam criar uma nova realidade socioeconómica inclusive na política externa. E aqui há um certo perigo de a Argentina ficar à deriva, isolada no mundo moderno".
Desse modo, Kirchner reacendeu o litígio territorial, empurrada pela lógica de sua orientação política. Por outro lado a atual conduta da Argentina pode ser explicada pela deceção com o Ocidente. Explica o politólogo, professor do Instituto Estatal Moscovita de Relações Exteriores, Boris Martynov.
"É que durante toda a última década do século passado, a Argentina foi uma vitrina da via de desenvolvimento neoliberal. Ela seguia muito escrupulosamente todas as receitas do FMI. Depois, quando, em consequência de seguir uma política econômica absolutamente inaplicável à realidade concreta, a Argentina foi atingida pela pior crise de sua história em 2001, o Ocidente não moveu um dedo para ajudá-la. Agora os EUA, o Ocidente em geral não estão em melhor situação. Assim, para que seguir um modelo que derrapa? Toda a América Latina está agora num período interessante de teste de modelo próprio de desenvolvimento. Para alguns ele dá mais certo, por exemplo, para o Brasil, Colômbia, e Peru. Para outros dá menos.
No entanto, a Argentina está fortemente inserida nas estruturas latino-americanas – econômicas, políticas. Seus vizinhos em caso de quaisquer explosões, irão ajudá-la, diferentemente dos países ocidentais no início da primeira década do século XXI".
Entretanto, por enquanto, os vizinhos da Argentina limitam-se a observar o desenvolvimento da situação.POR Serguei Duz
VOZ DA RUSSIA SNB
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