segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Exército se prepara para guerra cibernética





Em tempos de ciberespaço, a guerra pode ser travada não com tiros, mas com vírus. É para prevenir essa ameaça que o Exército Brasileiro assinou convênio com a empresa espanhola Panda Security, com sede em Bilbao. O acordo prevê que sejam treinados até 700 militares em ameaças virtuais, numa troca de experiências que incluirá visitas ao laboratório da Panda, na Espanha.




O acordo foi firmado pelo general Antonino dos Santos Guerra Neto, do Centro de Comunicações e Guerra Eletrônica (CCOMGEX) do Exército. Ele diz que o convênio segue uma tendência mundial de aprimoramento de estratégias voltadas para a defesa no ciberespaço.



– Somos mais de 600 organizações militares no Brasil e precisávamos de uma solução de alto nível técnico e condição econômica satisfatória. Após seis meses de testes, chegamos a essa parceria – informa.



O general nega que exista intenção de criar unidades de inteligência militar que incorporem táticas sofisticadas de invasão de sistemas de computação, como a montada recentemente em Israel. Os israelenses, aliás, foram colocados sob suspeita pelo governo iraniano de terem desenvolvido um vírus de computador, o Stuxnet, descoberto no reator nuclear iraniano em Bushehr.



Intenção é proteger rede de mais de 60 mil computadores



Os militares brasileiros ainda não detectaram ameaças premeditadas contra sua rede de informática – apenas as que atingem qualquer sistema de computação convencional – , mas se previnem quanto a isso. O Exército Brasileiro tem uma rede com mais de 60 mil computadores, e pelo menos 37,5 mil licenças da plataforma de segurança da Panda foram adquiridas, número que poderá ser ampliado.



Antes desse contrato, cada unidade militar fazia sua licitação e adquiria a solução, resultando em softwares de segurança de diversos fabricantes. Agora, a orientação é para que todos utilizem o da empresa espanhola.



O contrato garante que a Panda analisará qualquer conteúdo virtual com suspeita de código malicioso que trafegar na rede do Exército e providenciará, em até 24 horas, “vacina” contra essa ameaça. O contrato ficou em R$ 292,5 mil, um valor “bem abaixo do mercado”, ressalta Santos Guerra. Em contrapartida, o governo brasileiro se compromete a estudar a expansão do acordo para a Aeronáutica e a Marinha.



O general diz que até agora o Exército não teve problemas sérios com invasões de computadores.



– Elas acontecem centenas de vezes por dia, mas nunca tivemos nenhuma que causasse prejuízo, apenas desconforto – ressalta.



ENTREVISTA - Antonino dos Santos Guerra Neto, General



“Atuamos onde não há fronteiras ou inimigo claramente identificado”



Chefe do Centro de Comunicações e Guerra Eletrônica (CCOMGEX) do Exército Brasileiro, o general paulista Antonino dos Santos Guerra Neto é o responsável por travar uma guerra virtual – expurgar dos mais de 60 mil computadores do Exército os conteúdos virtuais com suspeitas de códigos maliciosos, ainda não conhecidos pela estrutura de proteção da rede. Por isso, firmou o acordo com a empresa espanhola Panda, como explica nesta entrevista por e-mail para Zero Hora:



Como o Exército protege sua rede de informática?



General Santos Guerra – O Exército tem mais de 60 mil computadores, espalhados em centenas de organizações militares. São usados para sistema operacional e para o pacote de ferramentas de escritório. Para a solução antivírus, as aquisições eram realizadas por licitação, mas de forma descentralizada, de acordo com a disponibilidade dos recursos e vencimento das licenças existentes em cada unidade. De fato, em alguns momentos, algumas pequenas redes operavam sem a devida proteção. Optamos agora por uma ação centralizada. Realizamos uma licitação, que resultou numa redução de preços muito relevante. Adquirimos da Panda 37,5 mil licenças e recebemos o treinamento presencial de todos os gerentes, além do treino, via internet, às organizações do Exército.



ZH – E o que a Panda oferece?



Santos Guerra – A parceria com a Panda engloba soluções tecnológicas na defesa dos sistemas militares, treinamentos de nossos efetivos e o que mais for possível. A Panda ofereceu, após a aquisição do antivírus, cooperação com o Exército Brasileiro para apoiar a instituição no avanço de sua capacidade operacional para o combate ao ciberterrorismo, crimes virtuais e no aparelhamento estratégico para operações de guerra cibernética. Ela já faz isso com as Forças Armadas da Espanha. Ofereceu ainda apoio do seu laboratório de tecnologia avançada em cibersegurança e treinamentos de alto nível por equipes tecnocientíficas.



ZH – Como o Exército acompanhará esses treinamentos?



Santos Guerra – O CCOMGEX fará acompanhamento permanente das ocorrências de tráfego em sua rede de informações e irá encaminhar à Panda os conteúdos virtuais com suspeitas de códigos maliciosos ainda não conhecidos pela sua estrutura de proteção. A empresa terá de responder ao Exército, num prazo máximo de 24 horas, informando detalhes técnicos sobre mapeamento desses códigos e os procedimentos adequados para a sua prevenção e detecção, juntamente com as respectivas vacinas.



ZH – O Exército já sofre com ameaças do ciberespaço?



Santos Guerra – Centenas de vírus atacam diariamente os computadores do Exército. Nosso interesse é na defesa e na auditoria das invasões, ou tentativas, do nosso sistema. Não há interesse na espionagem ou contra ataques. Gostaríamos de concluir um estudo sobre um antivírus para a administração pública no Brasil. Ainda não estamos convictos se é viável financeiramente. O Exército tem um quadro competente no desenvolvimento de softwares, mas a manutenção da base do antivírus se apresenta como um grande desafio.

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