segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Em um momento de intensificação do conflito pela soberania das ilhas, assessor de Lula revela a ZH que aguarda orientações





A revelação é de Marco Aurélio Garcia, o principal assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para política externa: o Brasil está a postos para prestar o necessário apoio diplomático à Argentina a fim de solucionar, a favor do país vizinho, um problema de 177 anos que vive um momento de agravamento da tensão – a disputa com a Grã-Bretanha pelas Ilhas Malvinas.



– As Malvinas fazem parte do território argentino, e deveria haver uma solução o mais rápido possível para esse problema – disse ele a Zero Hora.



A Argentina descarta a opção militar e promoverá a partir de segunda-feira uma ofensiva diplomática em busca de apoio no conflito, intensificado pela iminente exploração de petróleo no arquipélago – em posse dos britânicos desde 1833. O premier britânico, Gordon Brown, teve de negar que seu país estaria se preparando para um confronto armado. Mas assinalou: está disposto a defender sua soberania em relação às ilhas.



Garcia diz esperar pelos movimentos argentinos e acredita que o assunto será tratado no encontro dos países do Grupo do Rio, que se realiza segunda e terça-feira no México.



– Temos de acompanhar as ações da diplomacia argentina, mas o Brasil é solidário nas questões bilaterais e multilaterais. Provavelmente teremos na reunião em Cancún a invocação desse tema e, então, veremos com eles qual o melhor mecanismo para encaminhar isso – disse.



Argentina e Grã-Bretanha se envolveram em uma guerra 28 anos atrás – mais precisamente, a partir de 2 de abril de 1982. Garcia define o episódio como “uma tentativa desastrada da ditadura argentina”, que, segundo ele, “terminou por agravar essa situação”:



– Ficou sempre este espinho encravado nas relações entre os dois países.



E o Brasil ajudaria a desencravar o tal espinho?



– Claro, mas precisamos seguir a orientação dos argentinos. Vamos ver que medidas podem ser adotadas.



O fato é que as Malvinas, conforme o próprio Garcia, “ganharam atualidade”. A Grã-Bretanha planeja enviar às ilhas uma plataforma da empresa petrolífera Desire Petroleum para iniciar a perfuração 160 quilômetros ao norte do arquipélago. Se a operação for bem-sucedida, será a primeira vez que petróleo jorrará nas ilhas.



A Argentina não aceita essas prospecções. Na semana passada, a presidente Cristina Kirchner baixou um decreto pelo qual todos os navios que passarem por águas territoriais argentinas terão de contar com autorização prévia antes de se dirigir às Malvinas. Objetivo: criar obstáculos ao transporte de equipamentos para a extração petrolífera – o que elevaria os custos.



O sociólogo Vicente Palermo, autor do livro Sal nas Feridas, sobre a guerra de 1982, acredita que “a teimosia do governo e a cega obsessão de recuperar as ilhas reforçam a desconfiança dos 3 mil moradores das ilhas (os kelpers, descendentes de escoceses, galeses e irlandeses) com a Argentina”. Isso, diz ele, “complica a reaproximação”. Tudo porque o decreto de Cristina dificultaria o abastecimento dos kelpers – sua base econômica se limita à pesca e à criação de ovelhas.



Entrevista: “A palavra brasileira é importante”



Edgardo Sargiotto, veterano da Guerra das Malvinas



Veteranos das Malvinas consideram o apoio do Brasil importante para a Argentina recuperar algum dia a soberania sobre as Ilhas Malvinas. É o que diz o argentino Edgardo Sargiotto, 47 anos, soldado durante a guerra e hoje ex-presidente e tesoureiro da Fundação Malvinas, de apoio aos veteranos. Dezenas de veteranos se suicidaram, mergulhados em depressão após a guerra. Confira os principais trechos da entrevista, concedida ontem por telefone:



Zero Hora – Como você vê esta elevação nas tensões entre Argentina e Grã-Bretanha?



Edgardo Sargiotto – As Malvinas são umas ilhas pequenas no meio do oceano. Se há alguém que brigue tanto por elas, como Grã-Bretanha, é porque há um interesse. Agora, está claro que é o petróleo e a pesca.



ZH – Pessoalmente, como você se sente?



Sargiotto – Fico triste, porque fomos recuperar algo que é nosso, não fomos usurpar uma ilha. Neste momento, também vamos perder, porque países poderosos, como EUA, vão ficar do lado da Grã-Bretanha. Minhas esperanças são muito reduzidas. Vamos ver o petróleo passar para outros países.



ZH – Marco Aurélio Garcia diz que o Brasil apoiará a Argentina. O que você acha disso?

Sargiotto – Creio que o Brasil e a maioria dos países latino-america serão solidários conosco. É importante defender uma porção da América Latina.



ZH – A ajuda do Brasil pode levar a Argentina a recuperar as Malvinas?


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Sargiotto – O país mais importante da região é o Brasil, é o líder latino-americano, política e economicamente. Suas palavras vão pesar muito em uma eventual decisão das Nações Unidas.

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