Os ministros da Defesa do Brasil e do Peru, Celso Amorim e Pedro Cateriano Bellido, anunciaram nesta segunda-feira a criação de um grupo de trabalho binacional para estudar aspectos econômico-financeiros e jurídicos de futuras operações de compra e venda de equipamentos e de transferência tecnológica na área de defesa. O anúncio foi feito ao final de reunião bilateral ocorrida esta manhã na sede do Ministério da Defesa (MD), em Brasília.
Um dos aspectos centrais a ser tratado no âmbito do grupo de trabalho será a proteção da Amazônia, área de interesse comum enfatizada pelos representantes dos dois países durante o encontro. Há duas semanas, em reunião ordinária do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS) na cidade de Lima, Peru, os países-membros da Unasul aprovaram a proposta brasileira de estabelecimento de um sistema sul-americano de gestão e monitoramento das chamadas áreas especiais, a exemplo de reservas indígenas e de unidades de proteção ambiental.
O Brasil já possui expertise no assunto, adquirida com o trabalho desenvolvido pelo Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), órgão da Defesa. O CDS aprovou, dentro do Plano de Ação para 2013, a constituição de um grupo para estudar a criação desse sistema, que deverá prestar importante auxílio no mapeamento e monitoramento de áreas isoladas em zonas geográficas como a Amazônia, os Andes e o Chaco.
Destacando que a relação entre Brasil e Peru já gerou importantes acordos regionais, entre os quais o que deu origem à Unasul, Celso Amorim chamou de “estratégica” a cooperação com o país vizinho. Para o ministro, mais significativo que o aspecto comercial é fortalecer essa parceria por meio de ações concretas.
O ministro da Defesa peruano também reforçou a importância da integração entre os dois países. Segundo ele, “a aliança estratégica com o Brasil é uma prioridade” do atual governo de seu país.
Produção de embarcações fluviais
Pedro Bellido convidou os representantes brasileiros a conhecer empresa SIMA (Serviços Industriais da Marinha), que fabrica embarcações fluviais e petrolíferas no Peru, e que tem a França como um de seus clientes. De acordo com o ministro, há interesse em realizar parceria entre a SIMA e a estatal brasileira Petrobras.
Presente à reunião, o comandante da Marinha do Brasil, almirante Julio Soares de Moura Neto, saudou a iniciativa, dizendo que as duas Armadas têm buscado ampliar a cooperação. “Em fevereiro, pretendo estreitar mais os laços com a vinda do almirante Carlos Roberto Tejada Mera [comandante da Marinha peruana] ao Brasil”, afirmou.
Ensino
O intercâmbio na área de ensino também foi enfatizado na reunião desta manhã. Segundo o comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, as conferências bilaterais de Estado-Maior são exemplos de cooperação entre as Forças Terrestres dos dois países, além da quantidade de militares brasileiros e peruanos que fazem cursos em ambas as nações. “Fazemos esforço para manter isso no mais alto nível”, disse ele.
O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, lembrou que a Academia da Força Aérea (AFA), localizada em Pirassununga (SP), tem atualmente quatro alunos peruanos. “Na área de ensino e operacional temos forte intercâmbio, e estamos prontos para iniciar cooperação em outras instâncias”, disse.
Na oportunidade, o comandante-geral da Força Aérea do Peru, general-do-ar Pedro Seabra Pinedo, elogiou a instrução acadêmica recebida pelos militares peruanos no Brasil em cursos de formação.
Os peruanos manifestaram ainda interesse em enviar alunos para estudar no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), ideia prontamente aceita pela comitiva brasileira, que reiterou que a instituição passa por processo de expansão.
Na reunião, Amorim abordou também o interesse brasileiro em fortalecer a cooperação na área de indústria de defesa. Como exemplo desse fortalecimento, ele mencionou algumas importantes iniciativas recém-aprovadas pelo CDS de desenvolvimento regional de Veículos Aéreos Não-Tripulados (Vants) e um avião treinador básico.
O ministro brasileiro também destacou outras oportunidades de cooperação na área naval, como navios-patrulha fluviais, e fez menção ao início da produção, no Brasil, de uma nova geração de blindados sobre rodas, denominada Guarani. Ele ressaltou ainda o trabalho realizado em conjunto com países vizinhos nas Operações Ágata, iniciativa prevista no Plano Estratégico de Fronteiras (PEF). “Nós sempre avisamos aos países fronteiriços quando as ações começam e é importante que isso seja feito em cooperação. Nós fazemos do nosso lado e vocês do outro”, reiterou o ministro.
Pedro Bellido explicou que atualmente a maior preocupação na área de defesa no Peru é na luta contra o terrorismo na chamada zona do VRAEM (Valle do Rio Apurímac, Ene e Mantaro). “Não é como em décadas passadas, mas é importante enfrentarmos a situação”, afirmou.
Nesse sentido, o ministro da Defesa peruano manifestou interesse nos aviões de alarme aéreo antecipado (AEW) da Força Aérea Brasileira (FAB), usados pelo Censipam no monitoramento da Amazônia. O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, destacou que esse tipo de avião agregou uma nova tecnologia de emprego à Força Aérea.
Antes do encontro bilateral, o ministro peruano foi recebido com honras militares no Ministério da Defesa. Na ocasião, foram entoados os hinos nacionais dos dois países.
Também estiveram presentes no encontro o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, general José Carlos De Nardi; o chefe de Logística do MD, general Adriano Pereira Júnior; e o diretor-geral do Censipam, Rogério Guedes.
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