Países ocidentais pediram nesta quarta-feira (9) novas sanções contra o
Irã por causa de um relatório da agência nuclear da Organização das Nações Unidas (ONU) segundo o qual o país tem trabalhado para fabricar bombas atômicas. A Rússia, porém, já adiantou que bloqueará medidas adicionais contra Teerã no Conselho de Segurança da ONU.
O relatório expõe informações de inteligência sugerindo que o Irã busca adquirir armas nucleares e também inclui acusações de trabalhos em detonadores de bombas atômicas e explosões simuladas por computador.
A
França anunciou que convocará o Conselho de Segurança. O
Reino Unido afirmou que o impasse entra agora em uma fase mais perigosa e o risco de conflito aumentará se o Irã não negociar.
O Conselho de Segurança já impôs quatro rodadas de sanções a Teerã desde 2006 por causa do programa nuclear do país, que, suspeitam as nações ocidentais, estaria sendo usado para desenvolver armas. O Irã afirma que o programa é pacífico e tem intenção apenas de gerar eletricidade.
Há a preocupação de que, se as potências mundiais não conseguirem se unir para isolar o Irã e convencê-lo a dialogar seriamente,
Israel ataque o país, deflagrando um conflito no Oriente Médio. Israel sente-se em risco pelo programa nuclear de Teerã.
"Foi solicitada uma reunião do Conselho de Segurança da ONU", disse o ministro das Relações Exteriores francês, Alain Juppé, à rádio RFI. A pressão precisa ser intensificada, afirmou ele, após anos de desafios do Irã às resoluções da ONU exigindo que o país interrompa as atividades de enriquecimento de urânio.
"Se o Irã se recusa a atender às demandas da comunidade internacional, bem como qualquer cooperação séria, estamos prontos para adotar, com outros países, sanções em uma escala sem precedentes", disse Juppé.
A
Rússia, entretanto, deixou clara sua oposição a novas sanções.
"Qualquer sanção adicional contra o Irã será vista na comunidade internacional como um instrumento para a troca do regime no Irã. Essa abordagem é inaceitável para nós, e o lado russo não pretende considerar tais propostas", afirmou o vice-chanceler Gennady Gatilov à agência de notícias Interfax.
O Irã tem reiterado que quer energia nuclear apenas para produzir eletricidade. Na quarta-feira, o governo prometeu não recuar em seu projeto nuclear após o relatório da agência da ONU, que usou informações de inteligência ocidentais, consideradas falsificações por Teerã.
"Saibam vocês que esta nação não recuará nenhum milímetro do caminho em que se encontra", afirmou o presidente Mahmoud Ahmadinejad em um discurso transmitido ao vivo pela TV estatal iraniana.
"Por que você mancha a dignidade da agência por causa das acusações inválidas da América?", disse ele, aparentemente se dirigindo ao diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Yukiya Amano.
O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, discursa nesta quarta-feira (9) em Shahrekord (Foto: AP)
O aumento das tensões pode elevar o preço do petróleo, embora os preços do Bret bruto e do bruto norte-americano tenham caído mais de US$ 2 nesta quarta-feira, para cerca de US$ 112,50 e US$ 94,50 dólares o barril na bolsa européia durante a tarde por causa das preocupações com a dívida italiana.
"Agora, com relatórios mais conclusivos de que Irã possa estar atrás de uma ogiva nuclear e o risco aumentado de que possa haver um ataque a essas instalações, que provavelmente atrapalharia as suas exportações de petróleo, poderá haver preocupações cada vez maiores de que haverá uma alta no preço do petróleo após um acontecimento como esse", afirmou Nicholas Brooks, chefe de pesquisa da ETF Securities.
Além das sanções da ONU que se aplicam a todos os países, os EUA e a União Europeia impuseram sanções próprias. Uma autoridade norte-americana disse à Reuters que, por causa da oposição russa e chinesa, as chances são pequenas de que se aprove uma outra resolução no Conselho de Segurança da ONU impondo sanções ao Irã.
Washington poderá estender as sanções contra os bancos comerciais ou empresas iranianas, mas é improvável que mire a indústria de gás e petróleo do país ou mesmo o banco central, por enquanto.
"A realidade é que, sem ser capaz de impor sanções adicionais a essas áreas-chave, não vamos ter um impacto muito maior do que já temos", afirmou ele.
A Rússia e a
China aprovaram sanções limitadas pela ONU, mas recusaram as propostas ocidentais por sanções que poderiam restringir seriamente os laços comerciais com o Irã.
O Irã é o terceiro maior fornecedor de petróleo bruto para a China e o comércio bilateral total entre os dois países cresceu 58% nos primeiros nove meses de 2011, de acordo com dados de Pequim.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Hong Lei, afirmou que a China está estudando o relatório da AIEA e reiterou o pedido para resolver a contenda por meio do diálogo. Em um comentário, a agência oficial de notícias Xinhua disse que a agência da ONU ainda não tem uma "prova inequívoca".
"Não há testemunhas nem evidência física para provar que o Irã esteja produzindo armas nucleares", disse. "Ao lidar com a questão nuclear do Irã, é extremamente perigoso se basear em suspeitas, e as consequências destrutivas de qualquer ação armada permanecerão por muito tempo."
Israel absteve-se de responder nesta quarta-feira ao relatório da AIEA, para avaliar primeiro o impacto internacional.
Fontes do governo afirmaram que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ordenou aos ministros que não falem sobre os achados da agência da ONU, em um sinal de que ele prefere por enquanto deixar as potências mundiais assumirem a liderança nas ações para conter o Irã.
Israel, que se acredita seja a única potência nuclear do Oriente Médio, tem dito que todas as opções estão sobre a mesa, incluindo a militar, para deter a produção de combustível nuclear iraniano que agora está sendo transferida para um bunker subterrâneo protegido de possíveis ataques aéreos.