Depois de mais de vinte anos da parceria Brasil-China que resultou no lançamento, com sucesso, das três versões do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS 1, 2 e 2b), o Brasil, por meio da empresa Opto Eletrônica S/A, de São Carlos (SP), desenvolverá e produzirá as câmeras imageadoras para o CBERS 3 e 4. São câmeras modernas, com alta resolução, capazes de imagear com mais precisão e maior alcance o território brasileiro.
As câmeras para uso no espaço diferem bastante das tradicionais máquinas fotográficas disponíveis no mercado. A diferença, mais evidente, está no tamanho e no peso. Enquanto as usadas pelo público pesam gramas e são compactas, as câmeras para o uso espacial são grandes, possuem sofisticados sistema e proteção especial para suportar o ambiente espacial, chegando a pesar centenas de quilos. Além disso, a forma de capturar imagens é outra. Ao invés de imagear em quadros, como fazem os modelos comerciais, as câmeras espaciais capturam imagens por meio do registro de sucessivas linhas, em várias bandas espectrais.
Mesmo as câmeras chinesas possuindo a mesma resolução espacial que as brasileiras, em termo de qualidade, as nacionais são três vezes superiores às chinesas. A Multi Spectral Imager (MUX), uma das câmeras desenvolvidas pela Opto, produz imagens com vinte metros de resolução no solo (dimensão do menor elemento identificável no terreno é de 20×20 metros) a partir de uma órbita de 800 km da Terra. Ela capta imagens por meio de quatro bandas espectrais, uma para cada linha (vermelha, azul, verde e infravermelha) e cada uma possuí seis mil píxeis. Segundo o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Opto, Mário Stefani, “a forma como essa câmera obtém as imagens permite fornecer respostas mais eficientes sobre questões ambientais”.
Avaliada em R$ 75 milhões, a câmera MUX fará, a cada 21 dias, imagens do mesmo ponto da Terra (tempo de revisita). Este projeto inovador , segundo Stefani, “será uma importante ferramenta para o monitoramento ambiental”. Cada banda espectral se combinada com outra, ou processada de forma separada, funcionará para destacar diferentes aspectos da cena imageada. A linha infravermelha, por exemplo, é usada para monitorar a ocupação urbana. A linha azul servirá para monitorar possíveis contaminações de recursos hídricos. A banda infravermelha junto com a verde verificará se a vegetação está sendo degradada. A banda vermelha junto com a azul observará como o solo está sendo utilizado. A câmera MUX deverá ser entregue em dezembro/2011, para ser integrada no satélite.
O outro projeto de câmera que também comporá as próximas versões do satélite CBERS é o subsistema WFI (Wide Field Imager – câmera de grande campo). A construção da câmera WFI é fruto de um consórcio entre as empresas Opto Eletrônica S/A e a Equatorial Sistemas. A primeira será responsável pelo desenvolvimento, fabricação e montagem dos OMBs (Opto Mechanical Blocks), incluindo sistema óptico, plano focal e eletrônica de proximidade, e a Equatorial fabricará a estrutura mecânica de suporte dos OMBs e o bloco eletrônico de processamento de sinais.
A câmera WFI, orçada em R$ 45 milhões, está prevista para ser entregue em fevereiro do próximo ano. Ela terá como objetivo imagear uma faixa de 866 km de solo, com resolução de 64 metros. A imagem final é resultado da composição das imagens captadas por duas objetivas, cada qual com um conjunto de plano focal. Para Stefani, o uso das imagens geradas por esta câmera será de extrema relevância para o País. “Com elas será possível otimizar o trabalho de alguns institutos e até mesmo de profissionais . Observando os dados gerados pelos satélites, analisados via computadores, haverá um melhor controle de lugares que estão sendo devastados, estão pegando fogo, ou com ocupação irregular de área pública ou de proteção ambiental. Ou seja, não haverá como esconder esses fatos”, afirma.
Segundo o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Opto, o sucesso do projeto das câmeras imageadoras poderá impulsionar a indústria nacional do setor espacial a receber, desenvolver e produzir mais tecnologias críticas de que o Brasil necessita. “Tendo o País a capacidade de fazer, a oportunidade de agir, nós poderemos tornar a tecnologia espacial um negócio atraente e sustentável”. O diretor cita ainda, que o sucesso do empreendimento poderá gerar novas oportunidades. “Hoje estamos fazendo a Câmera MUX. Ela tem 20 metros de resolução no solo. Para fazermos uma câmera que tenha resolução de cinco, um ou que tenha até 0,5m é necessário, primeiramente desenvolver uma de vinte. A próxima etapa será desenvolver câmeras com maior resolução”, diz.
Na visão de Stefani se houver ações decorrentes de novas demandas ambientais, que estimulem o crescimento deste setor, o Brasil poderá ser, nos próximos anos, um player importante na área de imagens de satélites. “Esse é um ponto importante, onde não se consegue dar saltos. Se quisermos ser independentes no futuro, o primeiro passo deverá ser dado agora.Por isso, a importância das câmeras. Não existe país desenvolvido no mundo que não tenha capacidade de fazer suas próprias câmeras espaciais. Americanos, chineses, franceses, russos, indianos, israelenses, japoneses. Por que eles fazem câmera? Porque eles conhecem a importância dessa tecnologia, tanto para sua defesa e soberania, quanto para o uso sustentável de seu meio ambiente”.
A resolução dessas câmeras é tão grande que, para se ter uma noção, basta uma comparação simples: se elas estiverem na Terra e um alvo for colocado a uma distância igual a de sua órbita de 800 km, seria o mesmo que, a partir de São Carlos, reconhecer com precisão uma parede de apenas dez metros de altura, localizada em Brasília.
A OPTO foi selecionada para o desenvolvimento e construção das câmeras (óptica, eletrônica e estrutura) por meio de processo licitatório promovido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) no final de 2004. A empresa também é responsável pelo desenvolvimento de um conjunto de equipamentos para calibração e testes em solo das câmeras (GSE), além de infraestrutura para ensaios térmicos e estruturais. A previsão para a entrega de três equipamentos aptos para o vôo é até o fim de 2012.
Além do projeto das câmeras do satélite CBERS, a empresa foi selecionada por meio de uma licitação do INPE para projetar, desenvolver, fabricar e testar a câmera AWFI (Advanced Wide Field Imaging). O subsistema é parte integrante da carga útil da Plataforma MultiMissão Brasileira (PMM) a ser utilizado no satélite Amazônia 1. O projeto, orçado em R$ 40 milhões, terá tempo de revisita de sete dias e será um importante componente para o monitoramento da Amazônia. Trata-se de uma missão inteiramente brasileira, primeira do gênero.