ALFA;
BETA;
GAMA;
DELTA; e
EPSILON.
Com o objetivo de transmitir aos seus leitores uma "fotografia" atual sobre o que se planeja no Brasil na área de lançadores espaciais, a reportagem de Tecnologia & Defesa entrou em contato com Paulo Moraes Jr., coordenador do Programa de Veículos Lançadores Cruzeiro do Sul, do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), para uma entrevista sobre os projetos atuais e planos futuros na área.
O IAE é o centro de pesquisas do Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), localizado em São José dos Campos (SP), responsável pelo segmento de lançadores do Programa Espacial Brasileiro.
Foram abordados temas como o VLS-1, o Programa Cruzeiro do Sul e uma possível parceria com empresas estrangeiras para o desenvolvimento de um foguete lançador comercial de microssatélites, projetos e iniciativas que, em maior ou menor intensidade, estão inter-relacionados.
VLS-1
O projeto VLS, hoje conhecido por seu modelo VLS-1, atualmente passa por uma revisão técnica e deve ser lançado entre 2011 e 2012. O primeiro lançamento, denominado XVT 01, deverá ser feito com o funcionamento apenas da parte baixa do lançador, isto é, de seu primeiro estágio, constituído por quatro propulsores, e do segundo estágio. Haverá a separação entre o segundo e o terceiro estágios, mas este e o quarto estágio não serão propulsados. Basicamente, o objetivo da missão XVT 01 será o de qualificar a parte baixa do veículo, especialmente após as modificações inseridas para uma maior segurança operacional.
A previsão é que após o voo do VLS-1 XVT-01, e a depender da conclusão de estudos em andamento sobre o que virá após a qualificação da parte baixa do foguete, ocorra o lançamento de um modelo completo, com todas as partes propulsadas, denominado XVT 02. Caso haja sucesso nas duas missões, o VLS-1 estaria pronto para o lançamento ao espaço de pequenas cargas úteis.
VLS “híbrido”
Não é segredo o interesse brasileiro em também dominar a tecnologia de propulsores a propelente líquido, e o IAE é um dos centros-chave do governo na busca desse domínio. Uma vez qualificado o VLS-1, o passo natural seria o desenvolvimento de uma versão “híbrida” do foguete brasileiro, num misto de estágios com propulsores de propelentes sólidos e líquidos.
Basicamente, o VLS "híbrido" planejado pelo IAE é um veículo constituído pelo primeiro e segundo estágios do VLS-1, e um terceiro estágio com propulsor a propelente líquido, que substituiria o terceiro e quarto estágios, sólidos, atualmente usados pelo VLS-1.
Inicialmente, dentro do contexto de desenvolvimento do VLS Alfa, que seria o primeiro foguete da família do Programa Cruzeiro do Sul, planejava-se adquirir o propulsor a propelente líquido de uma empresa russa, com posterior desenvolvimento da tecnologia no País, pelo próprio IAE. O motor teria um empuxo de 75 kN e seria propulsado com o par de LOx (oxigênio líquido) e querosene. Este plano, no entanto, está sendo reconsiderado. “Atualmente, analisa-se a possibilidade de fazer uso de algum outro motor de porte similar em uma parceria para desenvolvimento conjunto de um veículo com configuração próxima a do VLS Alfa”, diz Paulo Moraes.
Programa Cruzeiro do Sul
Em outubro de 2005, foi apresentado oficialmente o Programa Cruzeiro do Sul, plano do governo para dotar o País de completa auto-suficiência no acesso ao espaço. O programa envolveria o desenvolvimento de uma família completa de lançadores até 2022, a um custo estimado, divulgado na época, de R$ 700 milhões. Seriam ao todo cinco foguetes de portes e capacidades crescentes: Alfa, Beta, Gama, Delta e Épsilon.
Embora tenha sofrido alterações desde a sua oficialização, o programa de desenvolvimento de lançadores continua a existir. "Sua primeira ação dizia respeito ao desenvolvimento, aí sim, do projeto do primeiro veículo da família, denominado VLS Alfa. Essa ação foi descontinuada antes que o anteprojeto do veículo tivesse sido concluído, conjuntamente com um parceiro externo", detalha Moraes. “Hoje, a proposta de desenvolver um veículo lançador para transporte de micro e mini-satélites tornou-se atual e evidente, visto que há uma demanda considerável de lançamentos de pequenos satélites de toda e qualquer natureza. Dessa forma, o que foi previsto fazer como primeiro membro de uma família de lançadores de satélites, que era o conteúdo do Programa Cruzeiro do Sul, será feito”, acrescenta.
De acordo com Moraes, “o Programa de Veículos Lançadores Cruzeiro do Sul, manterá sempre uma estreita relação com tudo que venha a ser feito nos próximos anos no Brasil em termos de desenvolvimento de veículos lançadores, pois esse programa é abrangente e escalonado, partindo do necessário, passando pelo essencial e levando ao alcance do desejável, permitindo dessa forma que o país seja dotado de capacidade estratégica para atender toda e qualquer missão espacial não-tripulada."
Parceiro estrangeiro
EPSILON.
A reportagem de T&D questionou Paulo Moraes Jr. acerca dos estudos do IAE sobre possíveis parcerias com empresas estrangeiras para o desenvolvimento de lançador espacial de pequeno porte com foco no mercado de lançamento de microssatélites, iniciativa noticiada pela primeira vez em julho desse ano, na coluna "Defesa & Negócios" da edição nº 118 de T&D. Segundo apurou a reportagem, o grupo europeu EADS e empresas russas e ucranianas demonstraram interesse no projeto.
VLS Alfa.
Moraes afirmou que não existe nada de concreto sobre essas discussões que possa ser divulgado nesse momento. Fez, no entanto, considerações sobre a capacitação nacional na área de foguetes, adquirida pelo País ao longo dos últimos 40 anos, fundamental para o interesse de empresas estrangeiras em firmar parcerias com o Brasil.
"Apesar de não termos conseguido ainda lançar com sucesso absoluto um veículo lançador de satélites, desenvolvemos ao longo dos últimos 40 anos, capacitação, tecnologia, métodos, processos, enfim, uma razoável quantidade de itens inerentes ao domínio da tecnologia de lançadores. E isso não passa despercebido de nações que estão mais adiantadas nesse aspecto, ou seja, que pelo menos já completaram o ciclo", diz o engenheiro do IAE.
"O Brasil tem um programa espacial menor do que merece ter. E vem demorando em obter os avanços necessários que torne essa atividade consistente e transparente para a sociedade brasileira. Mas, eis que de repente, passamos a ser interessante para agências e empresas espaciais de fora, por termos, além de uma boa engenharia e de tecnologias, uma capacidade operacional já instalada, a qual com apenas um bom aporte de recursos certamente virá a gerar resultados adequados para o país e para o interessado externo", completa.
T&D agradece a atenção e tempo dedicados por Paulo Moraes Jr. e pela comunicação social do IAE para a elaboração desta reportagem.