A escolha da Saab pelo Governo brasileiro na concorrência do projeto FX-2, que visa o reequipamento da Força Aérea Brasileira (FAB), possibilita uma parceria que vai muito além do fornecimento de 36 caças Gripen E/F. Para atender ao pedido, a companhia comprometeu-se em desenvolver uma ampla cooperação industrial.
“O Brasil escolheu a Saab porque queria ter o que há de mais avançado em tecnologia, com a possibilidade de ainda impulsionar sua própria indústria”, destaca Mikael Franzén, gerente do programa Gripen no Brasil.
Além das 28 aeronaves Gripen E/F monoposto e do desenvolvimento de oito aeronaves biposto, com entrega prevista entre 2019 e 2024, o contrato envolve a compra de um sistema de armamento pronto para uso, treinamentos, peças de reposição, suporte, planejamento e manutenção.
“Assumimos um compromisso tecnológico com relação aos caças, que prevê desenvolvimento, produção e manutenção”, diz Göran Almquist, vice-gerente do programa Gripen no Brasil. “O principal objetivo é qualificar a indústria brasileira até que esta possa não só manter a frota de caças Gripen, mas também desenvolver sua própria tecnologia”.
Em breve, a Saab e seus parceiros brasileiros, liderados pela Embraer, darão início ao programa de transferência de tecnologia. Um dos primeiros passos será a chegada de mais de 350 brasileiros, entre engenheiros, mecânicos e pilotos, além de suas famílias, à Suécia, para qualificação e treinamento prático, onde estarão envolvidos simultaneamente em diversos projetos.
Esta fase terá início no segundo semestre de 2015 e seguirá durante alguns anos, até o retorno gradual da equipe ao Brasil, com seu conhecimento adquirido. Nesta fase, os funcionários da Saab irão acompanhá-los na instalação das operações no país.
“Aprendemos muito ao trabalhar com outras empresas e culturas, e incorporamos seus melhores métodos de trabalho”, explica Almquist. “Temos um bom ponto de partida. Por exemplo, nossa parceira, a Embraer, é a terceira maior companhia de aviação do mundo, com quem temos muito a aprender”.
“Temos um período muito inspirador à nossa frente”, destaca Franzén. “Gostaríamos de dar as boas-vindas aos nossos futuros colegas, que escolheram se mudar do Brasil para a Suécia.”
Brasil Olha para o Futuro
Ao escolher o caça Gripen, a Força Aérea Brasileira sinalizou que está levando seus recursos para o próximo nível.
O Brasil é a nação dominante na América do Sul. De longe o maior país do continente, só não faz fronteira com dois países. Comumente conhecido como um dos países que fazem parte dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil normalmente se classifica entre as economias com crescimento mais rápido do mundo em desenvolvimento. Com o seu crescente perfil internacional, o Brasil começou a modernizar seus recursos de defesa e a fomentar seu setor aeroespacial.
Em dezembro de 2013, após muitos anos de avaliação detalhada, o governo brasileiro selecionou a Saab para fornecer 36 caças Gripen para o projeto de caças F-X2 da força aérea.
O ministro da defesa do Brasil enfatizou que umas combinações de diversas vantagens revelaram ser decisivas para a Saab. Ele observou que a proposta oferecia o melhor equilíbrio entre o alto desempenho operacional e custos de aquisição e manutenção favoráveis do Gripen e a oferta de transferência e parceria industrial da Saab.
O Chefe de Mercado da Região da América Latina da Saab, Bo Torrestedt, vem trabalhando no Brasil e regiões vizinhas nos últimos 25 anos. “O custo de administração de nosso sistema é substancialmente menor que a dos outros concorrentes”, disse Torrestedt.
Um estudo realizado pelos analistas militares IHS Jane´s descobriu que o Gripen tem o menor custo operacional de qualquer caça ocidental atualmente no mercado, a $4.700 por hora, em comparação com $11.000 do Super Hornet F/A-18E/F da Boeing e $16.500 do Rafale da Dassault, as outras duas aeronaves em análise.
A Saab compartilhará a tecnologia com os contratados e diversas peças da aeronave serão feitas no Brasil.
“O Gripen E/F está dando um grande passo para a próxima geração de caças”, disse Torrestedt. “Junto com isso vêm também muitas melhorias que fazem dele uma nova aeronave. Determinados trabalhos de engenharia e desenvolvimento serão feitos no Brasil, enquanto outros serão realizados na Suécia e na Suíça. Esse acordo está condicionado à Suíça manter sua decisão de também comprar o Gripen”.
A empresa aeroespacial brasileira Embraer desempenhará um papel importante na fabricação dos caças. “A Saab também prometeu desenvolver um unidade de produção de aeroestruturas na cidade de São Bernardo do Campo no estado de São Paulo", disse Torrestedt.
A Saab já tem presença significativa no Brasil, pois nos últimos 13 anos, o país já coloca em voo aeronaves de vigilância equipadas com o sistema aéreo de alerta antecipado e controle ERIEYE desenvolvido pela Saab.
A empresa também forneceu equipamento de treinamento e simulação, mísseis superfície-ar, sistemas de radar para rastreamento de mísseis, além de armas eletrônicas e equipamentos marítimos.
A empresa também forneceu equipamento de treinamento e simulação, mísseis superfície-ar, sistemas de radar para rastreamento de mísseis, além de armas eletrônicas e equipamentos marítimos.
Esta história, combinada com o longo processo de seleção para o contrato do caça, deu à Saab alta visibilidade no Brasil, podendo influenciar as decisões de países vizinhos, como o Chile, México, Peru e Colômbia.
Torrestedt disse que, por um longo tempo, o interesse da Europa na América Latina foi ofuscado pelo seu envolvimento na Ásia e em outras regiões, mas o interesse aumentou acentuadamente nos últimos anos. “Atualmente a América Latina tem uma economia muito mais estável, está mais estável em termos políticos e vem aumentando seus gastos em defesa e segurança, pois muitos dos países possuem materiais velhos e obsoletos”.
Um passo a frente
O Brasil enfrenta desafios exclusivos para manter controle sobre a atividade em suas fronteiras.
Imagine uma vasta faixa de território, aproximadamente do tamanho da Europa, coberta pela maior floresta tropical do mundo. Uma área com população esparsa e virtualmente inacessível, um lugar onde os traficantes de droga operam de forma rotineira e a mineração e o desmatamento ilegais são constantes. Bem-vindo à Bacia Amazônica do Brasil.
A área carece de infraestrutura e é impossível policiá-la por terra. Em 2002, o Brasil equipou um grupo de aeronaves com um sistema de vigilância eletrônica, a fim de monitorar as atividades.
Erik Winberg, Diretor de Desenvolvimento de Negócios da Saab, foi um player-chave para vencer um contrato em março de 2013 para a modernização do Sistema Aéreo de Alerta Antecipado e Controle na aeronave E-99 da Força Aérea Brasileira, fabricado pela empresa aeroespacial brasileira, Embraer.
“Os traficantes de drogas cortam árvores e fazem pistas de pouso na selva para pequenas aeronaves", disse Winberg. “Agora esse sistema é capaz de detectar essas aeronaves e ver onde eles aterrissaram. Os brasileiros explodem as pistas de pouso e um mês depois há novas pistas, portanto, existe um conflito contínuo".
Antes de o Brasil ter lançado o sistema de vigilância, disse Winberg, os traficantes podiam operar com impunidade. Mas, o lançamento do sistema em 2002 mudou essa equação e, dois anos mais tarde, o Brasil alterou a sua lei para permitir que os militares abatessem aeronaves suspeitas de tráfico de drogas. Os traficantes respondiam tentando parecer aeronaves civis, e, assim sendo, o conflito permanece.
“A Força Aérea Brasileira é muito silenciosa sobre suas operações, mas eles não estão brincando”, disse Winberg. Com o Brasil sediando os Jogos Olímpicos em 2016, o sistema de vigilância provavelmente será usado para proteger esses locais.
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