O Brasil e a Rússia, terceira e quarta maiores economias emergentes, têm muitas caraterísticas comuns. Seu PIB per capita é de cerca de 10.000 dólares (R$ 32.000) e as economias desses dois países dependem dos recursos naturais.
Depois da queda do preço internacional das commodities em 2014, as economias da Rússia e do Brasil contraíram e suas moedas nacionais desvalorizaram. Os bancos centrais tentaram conter a inflação, o que permitiu aos dois países baixar as taxas de juro e contribuiu para uma recuperação econômica modesta, informa a revista The Economist
.Entretanto, em termos financeiros esses dois países não são iguais. Em 18 de fevereiro, a agência de classificação de risco Fitch baixou a nota de crédito da dívida soberana do Brasil, colocando o país três degraus abaixo do grau de investimento. A nota de risco da Rússia, por sua vez, foi elevada pela agência de classificação de risco S&P Global, que se tornou a segunda agência que conferiu “grau de investimento” à Rússia.
Pode parecer um pouco surpreendente que a nota de crédito de um país que está sob sanções econômicas tenha sido elevada. Mas é fácil justificar.
"Embora sua abordagem da geopolítica seja aventureira, sua abordagem da macroeconomia é muito conservadora", opinou a revista.
"Toda a política econômica da Rússia, desde o presidente, está focada em manter baixa a inflação, garantir um orçamento estável e aumentar as reservas", disse Oleg Kuzmin do banco de investimento Renaissance Capital.
É uma estratégia "muito defensiva" em relação ao Ocidente que tem como objetivo ajudar a Rússia a sobreviver a futuras sanções, sublinhou Timothy Ash da empresa BlueBay Asset Management.
Quando o preço do petróleo caiu em 2014, o governo russo adotou a política de apertar o cinto. Aumentando as taxas de juro e cortando os gastos públicos, o governo fez com que a demanda caísse. De 2013 a 2016 seu PIB per capita caiu 40% (em dólares). Segundo Kuzmin, graças ao realismo e rapidez com que essa nova política foi adotada, a resposta da Rússia à crise foi a melhor de todas as economias emergentes nesta década.
O déficit público da Rússia agora é de apenas 1,5% do PIB. A sua dívida é apenas de 8,4% do PIB. Esse conservadorismo pode persistir durante vários anos.
O Brasil também introduziu um teto para os gastos públicos imposto para os próximos 20 anos. Entretanto, o governo brasileiro ainda não conseguiu adaptar seus outros compromissos a esse teto.
Segundo The Economist, os legisladores brasileiros, competindo uns com os outros, tentam aumentar os gastos públicos e demandam muito do Estado porque se eles não fizerem isso serão os seus rivais a fazê-lo. Pelo contrário, o presidente russo Vladimir Putin tem poucos adversários quanto às questões orçamentárias. Por isso, ele está interessado em manter essa política estável.