Apesar dos problemas financeiros e de alguns revezes que vem sofrendo na Justiça por conta da proibição da venda de ativos, dentro do plano de desinvestimento anunciado para os próximos anos, a Petrobras tem um cenário de resultados mais otimistas a partir deste ano na avaliação de especialistas da área de petróleo e gás.
As boas perspectivas são fundamentadas em novos recordes de produção que vêm sendo exibidos pela empresa. Em dezembro de 2016, por exemplo, a produção média de petróleo ultrapassou os recordes históricos diário e mensal, atingindo pela primeira vez 2,3 milhões de barris/dia, 3% acima do registrado em dezembro de 2016. Só em dezembro, a produção do dia 28 alcançou 2,4 milhões de barris de óleo, enquanto a de gás subiu 2,6%,ou 81,8 milhões de m³.
A média anual de produção do pré-sal no ano passado também foi a maior da história da companhia, com 1,02 milhão de barris/óleo por dia, superando em 33% a produção de 2015. Os principais destaques foram os expressivos crescimentos da produção no Campo de Lula, nos FPOs Cidade de Itaguaí e Cidade de Mangaratiba e no Campo de Sapinhoá, na Bacia de Santos. Os FPOs — as chamadas Unidades Flutuantes de Produção, Armazenamento e Transferência — são os navios da Petrobras encarregados da produção e estocagem de petróleo e gás.
O aumento contínuo da produção da empresa é fruto da retomada da normalidade de seus investimentos e da sua operação, na avaliação de Rivaldo Neto, gerente da Gas Energy, uma das maiorias consultorias brasileiras na área de petróleo e gás.
O aumento da produção também se deve ao fato de que em 2016, apenas no Campo de Lula, entraram em funcionamento as produções dos FPOs Cidade de Maricá e Cidade de Saquarema, permitindo uma elevação sensível na produção.
"Quando você tem uma plataforma dessas entrando em operação, se pode atingir até 150 mil barris/dia a mais e de 5 a 6 milhões de m³ de gás por dia. Talvez este ano se veja o Campo de Lula produzindo ainda mais. Esses recordes vêm na esteira da normalidade operacional da Petrobras, que começa a colocar em operação os sistemas prometidos. O que houve foi um acúmulo de projetos que não conseguiram entrar em operação de 2014 a 2016", diz o gerente da Gas Energy.
Com relação à autosuficiência do Brasil em petróleo e gás, Rivaldo Neto diz que a possibilidade se mantém, embora tenha sido vendida muito precocemente.
"Agora com a Petrobras se reorganizando e passando a cumprir com suas metas internas, a gente pode começar a imaginar que isso vá acontecer. Você tem algumas evoluções regulatórias importantes, como retirar a obrigatoriedade de participação da Petrobras em todos os campos do pré-sal, o que deve atrair investimentos de outras grandes empresas privadas do mundo que deixaram de investir no Brasil na medida em que você não poderia investir sem que tivessem a Petrobras como parceira. Se você tem essa organização e maior capital privado, com certeza, no longo prazo, poderemos vislumbrar um cenário de autosuficiência. A Petrobras precisa produzir mais independente do preço internacional", diz Rivaldo Neto.
Para o especialista, contudo, as recentes decisões que têm sido tomadas pela Justiça, impedindo a venda de ativos da empresa, não ajudam. Segundo ele, o principal fator de atratividade, principalmente na área de exploração e produção de petróleo no Brasil — objeto fim dos leilões que o governo já anunciou que vão acontecer neste ano e no próprio pré-sal — foi a retirada da obrigatoriedade da Petrobras de operar todos os campos.