O programa espacial brasileiro precisava de um pouco de boas notícias: no ano passado, um satélite de R$ 289 milhões caiu onze segundos antes de entrar em órbita; e a lembrança do acidente em Alcântara ainda ronda a memória das pessoas. Mas neste domingo, à 1h26 da manhã, foi lançado com sucesso o satélite sino-brasileiro CBERS-4. E o que ele vai fazer lá no espaço?
O mais novo satélite do programa CBERS (sigla em inglês para “satélite sino-brasileiro de recursos terrestres”) fará mapas de queimadas na Amazônia, ficará de olho no desflorestamento, na expansão agrícola, e também fará estudos de desenvolvimento urbano.
O satélite possui quatro câmeras – duas brasileiras, duas chinesas – que terão muitas finalidades, como explica a agência EFE:
Este novo aparelho é, como o anterior, também projetado para fotografar, rastrear e registrar atividades agrícolas, desmatamento das florestas, mudanças na vegetação, recursos hídricos e expansão urbana com uma resolução muito superior à dos satélites anteriores…
Desde 2010, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) tinha que usar imagens de satélites estrangeiros – como os americanos Modis e Landsat – porque o último satélite nacional com essa finalidade havia encerrado suas operações.
O CBERS-4 entrou em órbita doze minutos após o lançamento, a 778 km de altitude, conforme previsto. Ele foi levado por um foguete chinês que decolou da base de Taiyuan, no norte da China. Este é o 200º lançamento de satélite do país asiático (e o 188º bem-sucedido), desde quando seu programa espacial começou na década de 70.
Superando o fiasco
O engenheiro Antonio Carlos de Oliveira, coordenador no programa CBERS, disse à Folhaque “saiu um peso do peito” depois que o satélite entrou em órbita. É que, em dezembro de 2013, o foguete que levava o CBERS-3 sofreu uma falha no propulsor, fazendo o satélite caire ser destruído na atmosfera.
Segundo o Estadão, o problema foi uma falha em uma válvula no foguete chinês Longa Marcha 4B, que impediu ao satélite atingir a velocidade necessária. A propulsão do foguete deveria durar 16 minutos, mas foi interrompida aos 15 minutos e 49 segundos. Por isso, o CBERS-3 entrou em uma órbita instável e caiu na Terra.
Desde então, China e Brasil analisaram as causas da falha para que ela não ocorresse novamente; e a base de Taiyuan fez outros dois lançamentos bem-sucedidos. Devido ao acidente, o lançamento do CBERS-4 – antes previsto para dezembro de 2015 – foi adiantado em um ano. Ele não é um sucessor: na verdade, é igual ao CBERS-3.o Brasil fabricou a estrutura do novo satélite, o sistema de fornecimento de energia, o de coleta de dados ambientais e o gravador de dados digitais, além de duas câmeras a bordo do CBERS-4. Como o cronograma foi antecipado, a montagem do satélite foi feita na China; isso estava previsto para ser feito no Inpe, em São José dos Campos (SP).
O programa CBERS começou em 1988, quando Brasil e China uniram recursos para desenvolver e construir satélites de sensoriamento remoto. O CBERS-1, CBERS-2 e CBERS-2B foram lançados com sucesso em 1999, 2003 e 2007, respectivamente. Eles tinham vida útil de três anos.
Brasil e China já planejam um novo satélite, o CBERS-4B, que deve ser levado ao espaço em 2016.
Mais satélites
E este não é o único satélite sendo planejado no país. O Amazônia-1, em desenvolvimento no INPE, tem por objetivo gerar imagens do planeta a cada quatro dias, e ficar de olho em tempo real no desmatamento da Amazônia, além de fornecer imagens das áreas agrícolas brasileiras. Seu lançamento estava inicialmente previsto para 2010, mas deve ocorrer só em 2016.
O SGDC-1 (Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas) terá dois objetivos: levar internet para a população de áreas remotas, e permitir que os setores civil e militar do governo se comuniquem de forma segura. Ele recebeu investimentos do Ministério da Defesa e da Telebrás. Seu lançamento estava inicialmente previsto para o final deste ano, mas ele deve ficar pronto só em 2016.
O Lattes será o primeiro satélite brasileiro com fins astronômicos. Ele terá a missão de estudar os buracos negros, detectando e estudando fontes emissoras de raios X no universo. Ele também vai monitorar a região da atmosfera terrestre próxima à linha do Equador. Seu lançamento estava inicialmente previsto para 2017, mas deve ocorrer só em 2018.
O Sabiá-Mar, por sua vez, é um projeto em cooperação com a Argentina para estudar os ecossistemas oceânicos, o ciclo do carbono, e realizar mapeamento do habitat marinho. Seu nome é uma sigla para “Satélite Argentino-Brasileiro de Informações Ambientais Marítimas”. Seu lançamento estava inicialmente previsto para 2018, mas deve ocorrer só em 2019.Satélites brasileiros a serem lançados ao espaço, de acordo com o Programa Nacional de Atividades Espaciais 2012-2021
Por que tantos atrasos? Bem, a AEB (Agência Espacial Brasileira) vem recebendo bem menos recursos do que o previsto. A agência espera contar com cerca de R$ 300 milhões no ano que vem, mesmo valor repassado este ano. No entanto, ela planejava receber cerca de R$ 770 milhões a cada ano – mais que o dobro.
No Programa Nacional de Atividades Espaciais 2012-2021, ainda constam mais dois satélites: o GEOMET-1, satélite meteorológico para ser usado em sistemas de previsão do tempo, a ser lançado em 2018; e o SAR/MAPSAR, para produzir imagens da Terra por meio de radares, a ser lançado em 2020.
[O Globo SEGURANÇA NACIONAL BLOG.SNB