"É como levar seu filho à escola pela primeira vez. Por um lado, ele já é crescido, por outro, você entende que tudo só está começando", conta Nikolai Semakov, chefe do setor de construção naval dos estaleiros de Severodvinsk (Sevmach) onde foi construído o primeiro porta-mísseis submarino russo de quarta geração Iúri Dolgorúki, do projeto 955 Borei.
Para Semakov, sua construção levou 17 anos. "Essa foi uma prova de viabilidade para nossa indústria. De fato, uma  encomenda como essa envolve mais de 600 empresas, ou seja, uma indústria inteira! Embora tivéssemos enfrentado muitos problemas durante a construção desse submarino e tivéssemos tido de corrigir muitas coisas após os testes, essa encomenda mostrou que a situação em nossa indústria não era tão ruim assim. Já o segundo submarino dessa classe, o Aleksandr Névski, foi construído em sete anos, enquanto a construção do terceiro, o Vladímir Monomákh, foi concluída em apenas seis anos", diz ele.
O Sevmach planeja construir, até 2020, 15 submarinos nucleares de nova geração, dos quais sete do projeto Iasen e oito do projeto Borei. Nos últimos vinte anos, o Sevmach desenvolveu mais de uma centena de embarcações, de rebocadores a barcaças e pontões para a Alemanha, Suécia, Noruega e Holanda.
"Hoje em dia, a construção de um submarino é um negócio. Pertence à história a época em que nossos problemas eram solucionados pela liderança do partido comunista. Agora, temos de saber negociar o preço e os prazos e sobreviver às condições de mercado", diz a chefe do setor de testes e medições, Aleksandra Vlásova, vencedora do prêmio nacional "Engenheiro do Ano 2012".É difícil superestimar a responsabilidade depositada no setor chefiado por Vlásova. À profundidade operacional dos submarinos, um jato de água escapando de um furo de 1 cm de diâmetro tem uma força suficiente para cortar um homem ao meio.
Trabalho profundo
O primeiro submarino nuclear soviético Leninski Komsomol (Juventude Leninista) foi construído no Sevmach em 1957. Em 1968, foi desenvolvido no estaleiro o primeiro submarino nuclear de titânio do mundo, cujo recorde de velocidade em imersão (84 km/h) continua insuperável. Nos anos 1980, o Sevmach criou uma família de submarinos com o tamanho de dois campos de futebol e altura equivalente a um prédio de nove andares. Denominados Akula (Tubarão), esses submarinos do projeto 941 entraram para o Livro Guinnesse dos Recordes.
De acordo com os especialistas, um submarino não é construído, mas montado de chapas de aço soldadas. Um submarino nuclear moderno, por exemplo, tem milhões de cordões de solda que unem centenas de milhares de peças. Embora cada cordão de solda seja inspecionado com Raio X e Ultra-Som em busca de fissuras microscópicas, a responsabilidade pessoal de cada soldador melhora a qualidade de seu trabalho.
Mas há soldas que não podem ser feitas com a devida qualidade pelo  homem, por mais experiente que ele seja. Nesses casos, são utilizados robôs. "São casos em que precisamos de um cordão perfeito", diz o engenheiro Serguêi Rijkov. "Pregamos os olhos em uma pequena janela no meio de um grande barril de altura equivalente a um prédio de 4 andares e volume de 900 metros cúbicos. Lá dentro, um enorme braço mecânico aponta um canhão eletrônico contra as chapas metálicas amontoadas. Um feixe de elétrons emitido pelo canhão é aplicado às chapas a serem unidas deixando um cordão de solda perfeita. "Todas as peças mecânicas desse robô foram fabricadas na Rússia, na fábrica Progress, na cidade de Ijevsk. Seu canhão eletrônico pode se mover em todos os sentidos. Esse equipamento não tem par. Os norte-americanos, japoneses e alemães nos invejam", diz Rijkov.
Nessa câmara, a solda é feita em condições de vácuo para evitar a dispersão do feixe de elétrons e é aplicada às peças importantes para a diminuição do nível de ruído do futuro submarino. A invisibilidade acústica é a principal arma de qualquer submarino. A soldagem por feixe de elétrons resolve, em grande parte, tal problema. O manto da invisibilidade acústica é uma das tecnologias utilizadas nos submarinos russos e que lhes permitem ficar despercebidos nas regiões de exercícios navais da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), visitar às escondidas o Golfo do México e detectar um inimigo a uma distância de mais de 200 km, assim como colocar um ponto final na discussão de questões como por que o míssil antinavio russo Oniks é melhor do que o Harpoon dos EUA e os mísseis de cruzeiro russos tem um alcance duas vezes superior ao dos Tomahawk.
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