França deve ser o primeiro país a participar dos ataques aéreos; Reino Unido e Otan também iniciam preparativos para a ação.
A ação militar ocidental contra a Líbia começará nas próximas horas, com a França sendo o primeiro país a participar dos ataques aéreos, segundo informou nesta sexta-feira um representante do governo francês. Perante a Câmara dos Comuns, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou que os preparativos para desdobrar no Mediterrâneo os aviões que participarão da imposição da zona de exclusão aérea já começaram.
Nas próximas horas, os aviões estarão operacionais nas bases das quais poderão voar para aplicar a resolução aprovada pelo Conselho de Segurança (CS) da ONU, que deu sinal verde ao uso da força para proteger a população civil líbia dos ataques das forças do coronel Muamar Kadafi. Cameron explicou que os aviões da RAF (a Força Aérea Real do Reino Unido) que participarão da operação serão caças-bombardeiros Tornado e Typhoon
A Organização do Atlântico Norte (Otan) também iniciou os preparativos para a ação. Representantes dos 28 países da Aliança se reunirão nesta sexta-feira em Bruxelas para analisar a nova situação na Líbia. Segundo a Eurocontrol, depois da aprovação da resolução, a Líbia fechou seu espaço aéreo.
O porta-voz francês e ministro do Orçamento, Francois Baroin, disse à rádio RTL que a ação militar ocorrerá “rapidamente… nas próximas horas”. Ele afirmou que isso não se trata de uma ocupação, mas sim de uma ajuda às forças de oposição ao regime do líder líbio, coronel Muamar Kadafi.
Por outro lado a Itália excluiu por enquanto a possibilidade de que seus aviões participem das operações, embora está disposta a ceder três de suas bases para a operação.
Os anúncios ocorreram depois que o Conselho de Segurança da ONU aprovou a resolução que também autoriza “todas as medidas necessárias” para proteger civis de ataques das forças de Kadafi. A resolução recebeu dez votos a favor e nenhum contra, mas cinco países – incluindo China e Rússia, membros permanentes do Conselho, e o Brasil – se abstiveram.
Segundo o correspondente da BBC em Paris Christian Fraser, a França pode enviar à Líbia jatos Mirage que estão posicionados em bases militares na ilha da Córsega. Fraser diz ainda que outros aviões franceses posicionados na costa do Mediterrâneo, com ajuda de sistemas aéreos de alerta e controle, têm sido enviados a missões específicas 24 horas por dia desde quinta-feira da semana passada.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, já defendia ataques “cirúrgicos” nos bunkers de controle e nos sistemas de radar de Kadafi. No entanto, segundo Fraser, a França não descarta realizar bombardeios contra forças líbias em terra.
O correspondente da BBC afirma que a participação da França nessas ações é uma grande vitória polícia de Sarkozy, cujo governo havia sido criticado por não apoiar o levante popular na Tunísia.
O ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, disse que a resolução do Conselho de Segurança constitui uma “resposta positiva à reivindicação da Liga Árabe” a favor de medidas para proteger os civis líbios, indo ao encontro dos esforços da França, Reino Unido, Líbano e EUA. “É necessário tomar essas medidas para evitar um maior derramamento de sangue”, disse Hague.
Após a votação da ONU, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, um dos maiores defensores da intervenção militar contra Kadafi, falou por telefone por cerca de meia hora com o presidente dos EUA, Barack Obama.
Estados Unidos
Segundo fontes ouvidas pela BBC, é improvável que os EUA participem da ofensiva no início, que devem ter apoio logístico de nações árabes. Concentradas na cidade de Benghazi, no leste do país, forças contrárias a Kadafi comemoraram o anúncio da ONU, ao passo que um porta-voz do governo líbio condenou a “agressão”.
A resolução, de número 1.973, foi proposta por Reino Unido, França e Líbano e contou com apoio dos EUA. O ministro francês de Relações Exteriores, Alain Juppe, apresentou a proposta dizendo que “na Líbia, por várias semanas, a vontade do povo tem sido alvejada pelo coronel Kadafi, que está atacando seu próprio povo”. “Não podemos chegar tarde demais”, disse Juppe.
Segundo a embaixadora americana na ONU, Susan Rice, a “resolução deve enviar uma forte mensagem ao coronel Kadafi e seu regime de que a violência deve parar, a matança deve parar e o povo da Líbia deve ser protegido e ter a oportunidade de se expressar livremente”.
Voto brasileiro
Ao lado de China, Índia, Rússia e Alemanha, o Brasil se absteve na votação. Ao justificar a decisão, a embaixadora brasileira na ONU, Maria Luisa Viotti, disse que o gesto “não deve de maneira alguma ser interpretado como endosso do comportamento das autoridades líbias ou como negligência para com a necessidade de proteger a população civil e se respeitar seus direitos”.
Segundo Viotti, “o Brasil é solidário com todos os movimentos da região que expressam suas reivindicações legítimas por melhor governança” e leva em conta “o chamado da Liga Árabe por medidas enérgicas que deem fim à violência, por meio de uma zona de exclusão aérea”.
No entanto, a embaixadora afirma que “o texto da resolução em apreço contempla medidas que vão muito além desse chamado. Não estamos convencidos de que o uso da força como dispõe o parágrafo operativo 4 (OP4) da presente resolução levará à realização do nosso objetivo comum – o fim imediato da violência e a proteção de civis”.
Ainda segundo Viotti, o Brasil teme que ações militares exacerbem tensões e façam “mais mal do que bem aos próprios civis com cuja proteção estamos comprometidos”.
“Muitos analistas ponderados notaram que um importante aspecto dos movimentos populares no Norte da África e no Oriente Médio é a sua natureza espontânea e local”, diz ela.